segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Divórcio, filhos, culpas e desculpas!





É apaziguador pensar que por mais infelizes que sejamos numa relação conjugal, se a mantivermos (mesmo que a qualquer custo!), conseguiremos educar filhos felizes. Lamento dizer que não é verdade. O barómetro de felicidade dos filhos é, durante muito tempo, a felicidade dos Pais, e enganamo-nos a nós próprios quando achamos que eles não percebem nada do que se passa na nossa vida. Mesmo que ainda não tenham idade nem maturidade suficientes para saber exactamente o estado d´arte da família,  as crianças têm uma espécie de "radar das emoções dos Pais", isto é, uma capacidade para detectar espaços de conforto e de desconforto, de paz e de conflito, ainda que latente. Isto para não falar de Pais em conflito aberto e escalado. Nesses casos, as consequências da exposição ao conflito dos filhos, pode ter repercussões para a sua vida inteira: para os pais que poderão vir a ser, para o marido ou mulher que escolherem ser, para o adulto do futuro.
Manter um casamento infeliz por causa dos filhos pode acalmar a culpa durante um tempo, ou servir de desculpa para não tomar decisões, mas a verdade-verdadinha, é que não faz nada por eles, a não ser dar-lhes sinais errados sobre o que é ter uma relação conjugal positiva com alguém.  Que exemplo estamos a dar aos nosso filhos quando permanecemos numa relação em que acontecem algumas destas situações com regularidade?
-Pais que não se beijam, nem se abraçam
-Pais que não conseguem conversar, apenas gritar
-Pais que não se falam
- Pais que não se olham nos olhos
-Pais que não se riem um com o outro
- Pais que se agridem verbal e/ou fisicamente
- Pais que não dormem juntos
- Pais que não passam tempo juntos
- Pais que não namoram
- Pais que não se respeitam mutuamente
-Pais que não se amam
- (...)

As primeiras referências dos nossos filhos no que ao Amor diz respeito, chegam-lhes das suas principais figuras de referência que, na maioria dos casos, são os Pais. E Amor é respeito, é tolerância, é capacidade de comunicação, é alegria, é atenção, é cuidado, é intimidade, é cumplicidade.
Que mensagens lhes passamos quando decidimos permanecer num casamento árido disto tudo, em nome deles?
É ao contrário.
Devemos escolher o Amor em seu nome.
Devemos escolher a felicidade em seu nome.
Devemos escolher o respeito em seu nome.
Devemos escolher a coragem em seu nome.

Todas as escolhas são legítimas, quero deixar isso bem claro. É legítimo querer permanecer num casamento infeliz por medo do que os outros vão dizer, por medo de não nos conseguirmos aguentar nas próprias pernas, por razões económicas, por estatuto, por conforto, por medo do desconhecido, por amor...Todas as razões são válidas (e digo isto sem ponta de ironia!), menos os filhos.
A (des)culpa com os filhos torna-os culpados e esse é um fardo pesado e injusto demais.



3 comentários:

Ju disse...

Era um excelente texto para os meus pais... mesmo agora que somos adultos, continuam numa relação que não existe e que só nos continua a trazer tristeza e dissabores! Enfim...

Catarina Silva disse...

Marta,
Considero este texto simplesmente perfeito. Com tudo dito. Subscrevo na íntegra.
Vou imprimir e guardar, para ler e reler. Obrigada

Unknown disse...

Perfeito...
Nada a acrescentar..