segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Mediação, por favor!



Sou uma "sobrevivente" do divórcio dos meus pais, e do meu próprio com o pai dos meus três filhos mais velhos, de modo que conheço bem o papel de filha e o de mulher e mãe nessa circunstância.
Esta experiência num duplo papel, apesar de muito dura em qualquer um deles, trouxe-me a possibilidade de conhecer bem o medo de perder o meu pai quando o vi sair porta fora, e o medo de estar a causar aos meus filhos uma perda irreparável quando decidi separar-me: a de deixarem de viver com o pai como até ali.
Conheço demasiado bem o medo da antecipação destas perdas, mas aos 44 anos e depois de alguns quilómetros de vida, reconheço que a perda só acontece por escolha de alguém. São escolhas, não são inevitabilidades da vida. Quando um pai ou uma mãe decidem separar-se, é escolha de cada um deles o tipo de vínculo que irão estabelecer com os filhos naquela nova situação de vida. A separação dos pais não implica a separação dos filhos, ainda que esta constatação aparentemente óbvia não seja sempre tão linear. Imbuídos nos seus sofrimentos legítimos e em jogos de poder tantas vezes inconscientes, é tentador colocar os filhos no meio do conflito, arremessando culpas e construindo narrativas a preto e branco para histórias que foram feitas de muitas cores. E as crianças, inocentes neste palco de dor, vêem-se privadas do Amor a que têm direito: o da mãe e o do pai, independentemente de todos os contextos (retiro deste cenário, as situações de maus-tratos, naturalmente, que conheço bem, por força da minha profissão).
Eu sei; é duro reconhecermo-nos nisto. É duro assumirmos que se os nossos filhos não têm acesso a um dos progenitores, algum de nós não está a assumir o seu papel. Mas é verdade. A mãe ou o pai que vedam o contacto dos filhos ao outro, é tão grave como a mãe ou o pai que se anulam nesse papel e que abandonam. Excepção feita às situações de negligência e maus-tratos, todos os filhos têm direito aos pais, independentemente do marido e mulher que ambos foram, e separar estas águas pode ser penoso, mas é necessário.
Se vos disser que conheci o meu pai aos 20 anos, quando os meus pais se separaram, não vos minto. Até ali, era alguém que entrava e saía para trabalhar e que pouco ou nada sabia sobre mim. Foi só quando saiu de casa que decidiu investir. Sim, poderia ter sido tarde, mas ambos escolhemos não ser. Hoje, é o meu porto seguro, a par da minha mãe.
A separação ou o divórcio não podem implicar a perda dos filhos, e esse medo latente não pode ser inibidor de cumprirmos a nossa verdade. Nenhum pai e nenhuma mãe deve passar pela terror de perder os filhos quando decide separar-se, porque essa circunstância, mais do que a violação do direitos dos pais, é uma terrível violação do direito dos filhos. Há soluções legais e há soluções de bom-senso. Há Amor, mesmo quando os pais já não se amam mais.

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