sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Síndrome do Ninho Vazio [ou um coração entre dois Continentes]



Desde o dia 14 de Agosto que o meu coração passou a viver entre dois Continentes. No meu telemóvel pus a hora e a temperatura de Chongqing e o whatsApp tornou-se a minha aplicação de eleição (passo a publicidade). Sempre que acordo a meio da noite, pergunto-me o que estará o meu filho a fazer, porque as minhas noites são os dias dele e isto de vivermos ao contrário é esquisito. A madrugada tem sido o pior período do dia, porque é quando acordo, ainda meio ensonada, que tomo consciência da sua ausência no quarto em frente; da sua ausência prolongada. Ele não virá depois da visita de estudo, nem depois de uns dias passados nos avós. Ele virá no Natal. E depois, virá no Verão.
O pai partilha fotos da apresentação na escola (sim, as aulas começam já na 2ª feira!), e da própria escola, digna de revista. Vejo uma fotografia do Duarte, homenzinho como eles só sabem ser longe das mães, um sorriso largo, feliz. Tento infantilmente ler-lhe os pensamentos, se tem medo, se está ansioso, se contente da vida. E numa existência agora meio bipolar, emociono-me de alegria e frustração, porque pela primeira vez, não estou perto em momentos chave. Não conheço a escola, nunca falarei com nenhum professor nem com nenhum colega, limito-me ao que é enviado por whatsApp pelo pai e que guardo religiosamente no telefone, numa tentativa de lhe conhecer as rotinas e de não lhe perder o rasto.
Acho que a isto se chama "dores de crescimento", será isso? Também se chama Síndrome do Ninho Vazio. Dar nomes às nossas angústias e aos nossos medos não resolve, mas ajuda. Saber que milhões de mães (e pais) espalhados pelo mundo inteiro já passaram, ou estão a passar por isto não resolve, mas ajuda. Saber que o nosso filho voou, mas está feliz não resolve, mas ajuda. Saber que está bem amparado não resolve, mas ajuda. Ter vida para além da vida dos nossos filhos não resolve, mas ajuda.
Acho que por hoje, é isto.

3 comentários:

Catarina Silva disse...

Um abraço apertado Marta...Não resolve, mas ajuda. Espero...

Martolas disse...

Até eu tenho o ❤ apertado Marta. Chegará o dia em que também no meu ninho levantarão vôo...não quero nem pensar. Beijo no teu ❤

Anita disse...

Não deve ser fácil... nada fácil!