Há muitos anos atrás, tive um namorado que me levantou a mão quando, ao servi-lo, deixei cair uma nódoa na toalha.
Conteve-se a tempo diante do gesto repugnante, mas algo se partiu para sempre entre nós.
Primeiro invadiu-me o medo, depois a raiva, e logo a seguir, a certeza de que nada daquilo teria futuro, mesmo que não acabasse já naquele instante. Às vezes, é preciso tempo para as grandes decisões. Faz falta amadurecermos ideias e reunirmos forças, como quem se prepara para uma guerra: aquela que se trava connosco próprios, sempre que percebemos que só depende de nós fugir para bem longe e para nunca mais voltar. E foi o que fiz, pouco tempo depois.
Já se passaram muitos anos e muitas vidas desde aquele momento revelador. O exacto instante em que nos damos conta do nosso devido valor, e em que percebemos que ninguém no mundo no-lo pode tirar.
Aos meus três filhos, desejo que descubram isto cedo e sem ser preciso mãos levantadas, nem nódoas na toalha.
A auto-estima é a maior arma de arremesso contra a violência doméstica. A outra, é a autonomia para se poder fugir sempre que estamos em risco.
Continua a haver gente que morre, porque esta última premissa não está assegurada.
Uma vergonha nos dias que correm. Mais uma.
3 comentários:
Tive um episódio semelhante mas com o meu ex-marido, não foi um levantar de mão, mas foi um empurrão. Foi o momento de viragem, a partir daí pensei que não queria aquela pessoa na minha vida.
Em vez de um dia, deviam ser todos os dias assim! Basta de Violência!
Pois eu namorei 4 anos com um agressor.
Ainda me lembro como se fosse hoje a primeira vez que me bateu... Naquele dia e naquela hora tudo o que fiz a seguir e todas as decisões que tomei a seguir foram no sentido de o deixar...Não o consegui logo e ainda demorei quase 3 anos. Eu não queria apenas acabar o namoro...eu queria deixá-lo para o resto da minha vida e não ficar dependente dele nem física nem mentalmente (com medo de ameaças e perseguições)...Consegui deixá-lo já lá vão 10 anos....No entanto tenho 40 anos e continuo sozinha sem coragem de arriscar e pior que isso sem forças para lutar uma vez mais... prefiro assim...Sou feliz, independente e a palavra mais importante na minha vida é a palavra LIBERDADE...
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