terça-feira, 25 de novembro de 2014

#bastaquemebatasumavez

Há muitos anos atrás, tive um namorado que me levantou a mão quando, ao servi-lo, deixei cair uma nódoa na toalha.
Conteve-se a tempo diante do gesto repugnante, mas algo se partiu para sempre entre nós.
Primeiro invadiu-me o medo, depois a raiva, e logo a seguir, a certeza de que nada daquilo teria futuro, mesmo que não acabasse já naquele instante. Às vezes, é preciso tempo para as grandes decisões. Faz falta amadurecermos ideias e reunirmos forças, como quem se prepara para uma guerra: aquela que se trava connosco próprios, sempre que percebemos que só depende de nós fugir para bem longe e para nunca mais voltar. E foi o que fiz, pouco tempo depois.

Já se passaram muitos anos e muitas vidas desde aquele momento revelador. O exacto instante em que nos damos conta do nosso devido valor, e em que percebemos que ninguém no mundo no-lo pode tirar.
Aos meus três filhos, desejo que descubram isto cedo e sem ser preciso mãos levantadas, nem nódoas na toalha.
A auto-estima é a maior arma de arremesso contra a violência doméstica. A outra, é a autonomia para se poder fugir sempre que estamos em risco. 
Continua a haver gente que morre, porque esta última premissa não está assegurada.
Uma vergonha nos dias que correm. Mais uma.

3 comentários:

Mafalda disse...

Tive um episódio semelhante mas com o meu ex-marido, não foi um levantar de mão, mas foi um empurrão. Foi o momento de viragem, a partir daí pensei que não queria aquela pessoa na minha vida.

Sérgio Pontes disse...

Em vez de um dia, deviam ser todos os dias assim! Basta de Violência!

moijeeu disse...

Pois eu namorei 4 anos com um agressor.
Ainda me lembro como se fosse hoje a primeira vez que me bateu... Naquele dia e naquela hora tudo o que fiz a seguir e todas as decisões que tomei a seguir foram no sentido de o deixar...Não o consegui logo e ainda demorei quase 3 anos. Eu não queria apenas acabar o namoro...eu queria deixá-lo para o resto da minha vida e não ficar dependente dele nem física nem mentalmente (com medo de ameaças e perseguições)...Consegui deixá-lo já lá vão 10 anos....No entanto tenho 40 anos e continuo sozinha sem coragem de arriscar e pior que isso sem forças para lutar uma vez mais... prefiro assim...Sou feliz, independente e a palavra mais importante na minha vida é a palavra LIBERDADE...