terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Eu, desavergonhada me confesso!


Hoje saí do trabalho com o meu homem, e antes de irmos buscar o Vicente à creche, decidimos ir beber uma imperial e comer uns tremoços.
Na mesa atrás da nossa, estavam três mulheres a beber café e a ver o programa da Júlia Pinheiro que passava na televisão. Uma delas virou-se para as outras e disse "Gosto mais da Júlia Pinheiro que da Fátima Lopes. Tem cara de desavergonhada, já vai no terceiro! Eu já estou casada há 60 anos, tínhamos 19...".
Fiquei a pensar em como continuamos a viver numa sociedade tão preconceituosa e em como nós, mulheres, fruto da cultura patriarcal e de toda a porcaria que nos enfiaram na cabeça ao longo dos séculos, ainda somos tão cruéis umas com as outras. 
É certo que as "senhoras defensoras da moral e dos bons costumes" da mesa atrás da nossa eram de outra geração, mas fiquei a pensar nas várias mulheres da minha idade (e algumas delas, ditas "amigas"), que se contorceram de asco quando souberam da minha decisão de me separar do pai dos meus três filhos. Algumas, na verdade, nunca mais deram à costa. Não as condeno, porque as amizades são como os amores: há algumas que não são para ser, aceitemos isso com fair play.
Também fiquei a pensar que se aquelas senhoras, verdadeiras "guardiãs da decência feminina", soubessem que em vez de ir buscar o meu filho meia hora mais cedo à creche, fui beber jolas e comer tremoços, o que não diriam de mim? E se lhes acrescentasse que tive três filhos de um homem e um filho de outro? E se lhes dissesse que fui eu quem decidiu separar-se? E se lhes confessasse que o que determina um bom casamento não são os anos que ele dura, mas aquilo que realmente nos acrescenta?
As três senhoras da mesa atrás da nossa são, infelizmente, uma caricatura dos juízos de valor e da mediocridade que ainda grassa por aí. Pior que as senhoras da mesa de trás, são a massa disforme de senhoras de todas as idades que povoam o nosso universo, muito para além daquela tasca das imperiais e dos tremoços. São as senhoras da vida real, que por causa da tremenda infelicidade em que as suas vidas se tornaram e da sua incapacidade de fazer mudanças politicamente incorrectas, criticam a vida das outras. Das desavergonhadas.

9 comentários:

Ana Margarida Rosado Pimenta disse...

Essas mentalidades são as que vão pondo achas na fogueira da violência masculina que tantas vezes - demasiadas - culmina no homicídio de mulheres...

Anabela Sousa disse...

Tão verdade. Atrevo-me a dizer: Que falta de vida própria.

Fernanda Marques disse...

As nossas vidas "desavergonhadas" são o que dá sentido às vidas dessas "senhoras"...vendo bem as coisas, ate estamos a praticar uma boa acção... �� ��

Anónimo disse...

Não costumo comentar, mas hoje tem de ser.
Há 15 anos também eu me separei, por iniciativa minha, do pai do meu filho de 3 anos (na altura). Voltei a casar 1 ano depois, não tive mais filhos, ele é óptima pessoa mas não me completa, não conseguimos ter um projecto de vida em comum e, por isso, novamente por minha iniciativa, vou separar-me. Isto já é difícil, mas ainda fica mais difícil porque sinto-me a bruxa má, a víbora, por ir (novamente) terminar um casamento (o segundo, já !!) e ter a ousadia de tentar ser feliz. E as vezes que ouço, de mulheres, relativamente a outros casos "Ah, já vai no 2º casamento, ou no 3º casamento, ninguém a deve conseguir aturar...."... vão dizer isto de mim!!
Odeio moralismos, irrita-me. E, lamento, mas, por muito que me custe, devo-me a mim própria tentar encontrar um caminho que me faça feliz. Pelo menos quero muito ter isto presente na minha cabeça a dar-me força para não desistir e para resistir ao que os outros pensam da minha vida....

A TItica disse...

Uma parte as senhoras... outra parte a televisão...

Tita disse...

Neste mundo existe de tudo infelizmente as pessoas ocupam se demasiado com as vidas fos outros.enfim ,,, achi que cada um sabe de si, .Por vezes para se dar outros passos na vida é preciso muita coragem.. Eu penso vivam e deixem viver ,, Desejo que cada uma de voces sejam felizes e encontrem o vosso caminho . beijinhos para todas

Tita disse...

Neste mundo existe de tudo infelizmente as pessoas ocupam se demasiado com as vidas fos outros.enfim ,,, achi que cada um sabe de si, .Por vezes para se dar outros passos na vida é preciso muita coragem.. Eu penso vivam e deixem viver ,, Desejo que cada uma de voces sejam felizes e encontrem o vosso caminho . beijinhos para todas

Unknown disse...

Acredito que cada um deve procurar a sua felicidade. Quem quer ficar casado deve ficar, quem não quer deve separar-se.
Só não percebo por que motivo a Marta ficou tão incomodada com os comentários. Elas estavam a falar entre elas. Estão num país livre e podem dizer o que querem. E na verdade a Marta também veio para aqui criticar as opiniões diferentes das suas. Qual a diferença?

Dolce Far Niente disse...

Unknown, os comentários não me incomodaram, mas fizeram-se pensar e refletir sobre o que refleti no meu texto. Todos temos o direito de tomar as nossas decisões e de tirar as nossa ilações, porque vivemos num País livre. Foi o que fiz. E as senhoras também.