segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A vida real e os romances de Domingo à tarde

Juvenália de Oliveira Fotos e Histórias

Sempre que o meu bebé acorda a meio da noite, chama pelo pai. Quando cai e se magoa, chora pelo pai. Se tem fome ou sede, pede papa e água ao pai e por aí vamos.
Sei por experiência que os miúdos passam por fases e que todas elas trazem "preferências", mas não resisto a olhar para trás e a ver o filme da minha vida recente com lucidez. Nos últimos nove meses (desde os 18 meses do Vicente), terei ido levá-lo e buscá-lo à creche umas quatro ou cinco vezes. Das outras todas, foi o pai ou a minha mãe, igualmente responsáveis por passeá-lo no parque ao final do dia, por dar-lhe banho e por preparar-lhe e dar-lhe o jantar. Eu costumo chegar-lhe perto das sete ou sete e meia da tarde, e mantenho obsessivamente a rotina (dizem alguns "especialistas" que profundamente anti pedagógica) de o adormecer comigo na minha cama, embora quase sempre num registo apressado, porque quero ainda conversar com os meus filhos mais velhos, jantar, e voltar aos mails que deixei para trás há poucas horas, e que acumularei sem dó nem piedade no dia seguinte, se não der conta deles diariamente.
Não raras vezes, ouço as descrições babadas do meu marido e da minha mãe sobre as novas amizades que o Vicente fez no jardim por trás da nossa casa, e tornei-me "pro" a pedir resumos ao meu homem dos mails que a Educadora manda para os pais, e do que ela tem dito sobre a evolução do Vicente de cada vez que ele o vai buscar à creche. Também me tornei "pro" em fingir que acredito que a minha presença física não faz assim tanta falta ao meu bebé, porque tem a sorte de ter o melhor pai do mundo e uns avós e manos cinco estrelas, que mascaram todas as minhas ausências e substituem de forma irrepreensível todas as minhas faltas. Finjo acreditar que somos todos super heróis, a começar por mim, claro está.
Dizer-vos que não há almoços grátis e que o melhor dos dois mundos só existe nos romances de Domingo à tarde.


4 comentários:

Anita disse...

Nós a tentarmos ser sempre "super-heróis"...

Mafalda disse...

Marta vou partilhar consigo a minha realidade que vale o que vale, mas pronto aqui vai. Eu tenho dois filhos, um com 9 e outro com 6. O mais novo, desde sempre foi pai, para a dor, para o calor, para o amor. O meu marido esteve dois anos no estrangeiro e eu sempre presente na vida deles. Passado esse tempo e com o seu regresso o Vasco continua a dar preferência ao pai, inlclusivé quando o vou deitar e o pai aparece ele diz-me: mãe podes ir que o pai está aqui e quero ficar com ele. E pronto... ;)

Su disse...

Exato Marta, não podemos ter tudo e não é nenhum problema. Querem iludir.nos com a conciliação. Ela é possível mas não chegamos a tudo. Existem opções apenas. Quem é mais feliz a trabalhar óptimo. Quem quer estar mais presente para os filhos devia poder ter opções de licenças mais alargadas ou part.time ou horário continuo ou reduzido. Mas infelizmente em Portugal não existem opções e tentam impingir a conciliação. Eu não quero estar 11 horas fora de casa e ter de conciliar com a minha prioridade que são os meus filhos. Eu quero TEMPO.

Anónimo disse...

Marta, compreendo totalmente e cada palavra sua está neste momento a sair-me da pele. Portanto um abraço solidário. Mas, não resisto a escrever para dizer que também eu sou “especialista” (vale isso o que vale) e só quero dar-lhe os parabéns por adormecer o seu bebe. Acredite. Um beijinho enorme. Catarina Silva Almeida