quinta-feira, 19 de maio de 2016

E "nós", depois disto tudo?



Por mais arrebatador que seja, a chegada de um filho não une nenhum casal. São as noites por dormir, a mudança radical das rotinas familiares e a dois, o caos em que tantas vezes a casa mergulha, a ausência de desejo e de sexo, a perda de tempo para nós próprios e para o outro, a irritabilidade à flor da pele, as mazelas deixadas no corpo da mãe e o que isso, tantas vezes, implica em termos de auto-estima para a mulher, a vida a passar depressa lá fora e a sensação de que a nossa parou, o medo de perder a identidade e a intimidade. 
Visto assim, a cru, não é um cenário bonito. Acredito, aliás, que ter um filho em comum é uma prova de fogo para qualquer casal {talvez a maior delas todas}, e que é a forma como passamos por ela que fortalece ou, ao contrário, abre brechas numa relação. Algumas, se mal cuidadas, perigosamente mortais.
Quero, contudo, acreditar que a nossa história e a nossa idade virão em nossa ajuda, meu amor. Que estaremos alerta para os sinais de perigo e que saberemos, uns dias melhor que outros gerir, a dois, grande parte dos desafios diários. 
Ainda assim, tenho medo. Aquele medo tonto e adolescente de te perder no meio disto tudo, simplesmente porque já me perdi tantas vezes. 
Quero agora tragar o mundo contigo, num sufoco de despedida parva, mas rebolo em vez de andar, e o meu corpo limita-me a capacidade de viver estas últimas semanas com a voracidade que me apetece. Cuidas-me como se fosse de cristal e repetes todos os dias que sou a mulher mais bonita do [teu] mundo, mas o que faço com esta inevitabilidade de saber que o meu corpo já não te pertence só a ti? E com este medo que tenho, de nos deixarmos de ver no meio da confusão?
Resta-me esperar e acreditar em nós e na vida. Ela tem sido generosa connosco e saberá o que faz.
Assim seja.

5 comentários:

Bailarina disse...

A vida sabe o que faz, e nós sabermos ao que vamos é meio caminho andado para não deixar a coisa descambar.
Eu não sabia ao que ia mas a minha sorte foi já ter visto, ao meu lado, muitas vidas que não queria para mim e por isso tudo fizemos para que fosse diferente!
Tudo de bom

Anónimo disse...

Como a entendo querida Marta, fui mãe há 9 meses e essas palavras parecem ter sido escritas por mim durante a gravidez, tinha o mesmo medo!
É verdade mesmo que as coisas mudam e muito para o casal, se ambos falarem sempre sobre isto e recordarem-se um ao outro como eram antes do baby, as coisas ultrapassam-se. Um conselho, nunca deixem de fazer SEXO! É muito importante a intimidade para unir um casal. Foi isso que pus sempre na cabeça ;)
bjinho gde e vai correr tudo bem :)
Ass: Rita

VerdezOlhos disse...

Este texto traduz tão bem o medo tolo que também eu confesso que sinto em relação a ter filhos e ao que isso pode significar na relação do casal. Obrigada por me fazer perceber que esses medos não são só inventados da minha cabeça nem são só meus, que mais alguém os vislumbra também. Obrigada :)
Deus queira que esta seja uma fase maravilhosa para vós enquanto casal e família, e que vos una e fortaleça mais esta experiência em conjunto. Que assim seja! Beijinhos

Anónimo disse...

Infelizmente sei bem do que fala, a minha relação com o meu marido sofreu bastante com a chegada de um filho à 4 anos, e cada vez pior...parece que cada dia é mais difícil voltar ao ponto em que estávamos...
Acredito que um marido participativo e companheiro ajude imenso a minimizar e a ultrapassar estas situações,coisa que o meu não é...

Do que vejo acredito que com vocês vá ser diferente...
Bjs

LifeinPink disse...

Percebo tãooo bem o que escreve e subscrevo o receio do abalo na relação. Apesar de acreditar que o nosso amor é inabalável, uma crinaça parece-me que colocará um desafio tremendo à relação, que espero saia fortificada! O nosso corpo já não ser só nosso e limitar os nossos desejos.. está na recta final, quase quase :) Que corra tudo muito bem!