quarta-feira, 2 de abril de 2014

"Como é que se ensina a cabeça a correr 10km?"

Foi a pergunta de uma leitora.
Fiquei a pensar nisto, como um burro olha para um palácio. Sem resposta para dar na ponta da língua, se eu própria, há uma semana atrás, me sentia incapaz de o fazer.
Acho que corri 10km como corri 5km pela primeira vez: com a decisão tomada antes de sair de casa. Se me preparo para correr cinco, ao quarto estou à morte. Se me foco em correr dez, estou a rebentar pelas costuras aos nove, e assim sucessivamente. Cabeça, cabeça, cabeça.
O tempo que tudo demora é, contudo, um desafio enorme para mim. E não falo apenas do esforço físico. Refiro-me à chatice que é correr mais de uma hora seguida. Ajudou-me ouvir outras pessoas dizerem em que pensam enquanto correm: umas no trabalho, outras no jantar que vão fazer a seguir, outras ainda, reorganizam partes da vida que precisam ser arrumadas. No meu caso {e porque ainda só corri essa distância uma vez}, escrevi este post na minha cabeça e repeti-o para mim como um mantra, durante a hora e vinte seis minutos em que durou o percurso. Juntei palavras, apaguei outras, defini um título, imaginei a reacção de alguns amigos, pr´á frente, pr´a trás, escrevo, não escrevo, está giro, é melhor não arriscar, irão perceber-me, ficarão melindrados, novamente a primeira frase, como é que acabo isto...uma canseira mental que me ocupou a mente e me alheou das dores no corpo e do tédio do trajecto, que já conheço de cor {embora continue a achar que correr ao lado do Tejo é um privilégio}.
Confesso que, nalguns momentos, a mente atraiçoou-me. Teimava em fugir para uma dor chata no joelho, e para o ar que me falta sempre que penso no assunto. Tenho este problema. Falta-me o ar sempre que racionalizo que não posso parar de respirar. Um disparate, eu sei. Para falar em público tenho que me esquecer que respiro, ou fico a arfar o tempo todo. Para correr é igual. Mas lá focava no post e na vida. Organizava ideias, punha em perspectiva lugares comuns, arrumava pendências.
Corri 10km a falar comigo mesma. E descobri que há terapias que são de borla.

Teresa, respondi à questão?


5 comentários:

Dudu disse...

Revi-me nas tuas palavras, e acontece-me o mesmo, se penso que vou correr 5km aos 4 já estou com mil e uma dores, a mente é mais forte que o corpo e no domingo corri pela primeira vez 10km e senti-me tão bemmmmmm.

Anónimo disse...

A Cabeça manda tanto...
Eu ainda estou a assimilar os 5km que já corro mas vou fazer um esforço para os 10km. Tem de ser!

Sim, das que fiz parece-me que correr é das melhores terapias e gratuitas!!!
Já resolvi algumas questões da minha vida a correr e acho que me saí bem!

Patrícia Branco Arez

Becas disse...

Eu falo comigo mesma quando caminho. E quando caminho penso que devia correr. E quando penso "e' hoje! vou correr!" a vontade corre de mim xD

Boas corridas ;)

Miss F disse...

"Há terapias que são de borla" Mesmo! Para mim é tempo que passo comigo. Gosto de o fazer seja a correr ou a caminhar. Beijinho.

susana canhola disse...

A corrida é feita de sacrificio e só quem corre, entende isso. Por isso somos loucos aos olhos dos que nao correm. Comecei a correu em outubro do ano passado e ja não passo sem a corrida. Acabo morta mas feliz. E quem entende isto? Só mesmo quem corre!!!!