segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Hoje apetece-me falar de Amor...

Passei muitos anos da minha vida a achar que, depois de algum tempo, o Amor se esvai. Perde-se por entre as rotinas, no meio dos cansaços, depois dos miúdos e das refeições, das palavras mal ditas, das que nunca foram ditas mas que se intuem, dos mal-entendidos, tudo desembocando no desencanto. 
Durante muitos anos achei que os homens não são nossos parceiros mas nossos maridos, namorados, amantes, e que nunca conseguiria ser com o meu homem aquilo que sou realmente: um poço de inconstâncias, uma mulher que flutua de humor como os Açores flutuam de clima, um dia insegura outro dia uma rocha, num momento um doce, no outro um monstro qualquer.
Passei muitos anos a achar que a química da pele não existe. Que é um mito, uma fantasia qualquer. E se tal coisa existisse, desapareceria logo depois, quando as exigências do dia-a-dia engolissem os arrepios das peles a tocarem uma na outra e o frenesim do desejo do outro. A rotina mataria sempre o Amor. Uma inevitabilidade. Um fado da espécie humana.
Chamem-me louca, agora. Ingénua, naif, infantilmente romântica. Talvez tenham razão. Mas a verdade é que os meus dias estão cheios de rotinas e de exigências diárias. Estão cheios de palavras mal ditas, outras intuídas, de refeições por fazer, de banhos para dar, de mochilas por organizar, de actividades extra-curriculares, de TPCs para controlar, de mil e uma razões para dar tudo errado. Para o desencanto se instalar insidiosamente e permanecer, como um inquilino indesejável.
E mesmo assim, apesar disto tudo, o amor vai ficando. Cada vez mais forte, cada vez mais certo, cada dia mais crescido. 
Não sei se vai durar para sempre. E, com franqueza, também não quero saber. Acho que esta é a diferença entre ter 20 anos e quase 40. Estou mais preocupada em viver esta benção de peito aberto e sem rede, que há muletas que só atrapalham.




7 comentários:

Enjoy the Ride disse...

belíssimo texto sobre o que é o amor.

Anónimo disse...

concordo perfeitamente, o Amor tem que ser vivido sem pressas... o Amor tem que ser vivo no Agora.

olivia disse...

E nao e isto mesmo o amor? aquela chama que se mantem acesa mesmo que a tempestade ronde... lindo texto obrigado por partilhar e bom ler... e mais revermo-nos entre as suas palavras... obrigado por isso

Helena Barreta disse...

E que bem, na minha opinião, fala de Amor.

O amor sobrevive e sobrepõe-se às nossas rotinas e às birras, as nossas e as dos filhos. O amor é como o vento, ou uma brisa suave, pode ouvir-se ou passar despercebido, mas está sempre lá, principalmente nos momentos de maior tormenta.

Um abraço

R. disse...

Marta, eu estou a meio do caminho para os 40 e revejo-me exatamente como na primeira parte do teu post...resta-me ter a esperança (ou a coragem) de um dia viver o que falas na segunda parte...

este, foi sem duvida, um dos posts que mais gostei de ler.

Raquel Caldevilla disse...

Obrigada pela sua partilha... Pois é isso mesmo que sinto*

Anabela Crespo disse...

"um poço de inconstâncias, uma mulher que flutua de humor como os Açores flutuam de clima, um dia insegura outro dia uma rocha, num momento um doce, no outro um monstro qualquer".
Afinal não sou a única. Confesso que ler este trecho me deixou um pouco mais descansada. Tenho andado a combater esta minha natureza mas sem fruto, talvez porque não seja defeito, mas feitio.