sábado, 4 de agosto de 2018

Vamos falar de tatuagens?


Anita La Sainte Tattoo Art
Embora estejamos em pleno século XXI, o preconceito associado a quem se tatua ainda é enorme, mesmo que muitas vezes encapotado. Umas pessoas sem dar conta, outras plenamente conscientes disso, associam as tatuagens a criminosos, rufias, irresponsáveis, toxicodependentes e/ou alcoólicos, tipos violentos, dignos de pouca confiança, má rês. Os chavões poderiam continuar indefinidamente, e infelizmente, sempre negativos. Ao fim ao cabo, é de rótulos que estamos a falar e como todos os rótulos, são profundamente limitadores e estigmatizantes. 
É preciso quebrar este preconceito e racionalizar. Senão vejamos: sou assistente social, mãe de 4 filhos e, neste momento, a exercer um cargo de chefia na função pública. Tenho dez tatuagens, a primeira feita perto dos 40 e as outras nove depois disso. Sempre fui tida como alguém responsável, competente e confiável. Pergunto se o facto de ser uma mulher recentemente tatuada mudou alguma coisa a este nível. Pergunto se as minhas 10 tatuagens significam que, repentinamente, deixei de ser a mulher que era e me transformei no rótulo. Isto parece óbvio, mas acreditem que não é. E são estes preconceitos que nos limitam tantas vezes a tomar decisões: o que pensarão no local de trabalho; o que pensarão os pais, e por aí adiante.
Dizer-vos que o estigma no local de trabalho cabe também a cada um de nós quebrar; somos os mesmos profissionais e mantemos as mesmas competências, certo?
Quanto aos pais, dizer-vos com toda a generosidade que é bem mais saudável assumirmos a nossa matriz (no que quer que seja), com eles em vida, que aguardando pelo dia em que já não estarão connosco. A maior tristeza na relação entre pais e filhos é fingir uns vida inteira. Fingir que gostamos de um emprego que nos faz tremendamente infelizes, fingir que estamos felizes num casamento miserável, fingir sobre a nossa orientação sexual, fingir que somos alguém que não somos. A maior tristeza na relação entre pais e filhos é a personagem que às vezes criamos para não desiludir, para não entristecer, para não zangar. É assustador sermos uma farsa em nome do Amor. E é perigoso, porque facilmente pode resvalar em ressentimento.
Com isto não quero obviamente dizer que todos temos que gostar de tatuagens. Ninguém é obrigado a gostar de nada. Eu não gosto de piercings no umbigo, porque nunca toquei no meu (isso daria um novo post!), detesto pezinhos de coentrada e cabidela e nunca pintaria o meu cabelo de loiro platinado, nem na fase em que queria ser a Alexandra Lencastre. É mesmo verdade que "gostos não se discutem". Sejamos felizes e livres, porque grande parte das nossas "prisões" mora na nossa cabeça.



2 comentários:

Anónimo disse...

Bem, tais pessoas e que primeiro comecaram a se tatuar e a mostrar interesse por tal coisa, entao nao e de se admirar que tenha ficado esta impressao, que nao e em absoluto forte ou generalizadora nos dias de hoje. As tatuagens evoluiram e sao atualmente muito mais bem feitas e artistiscas. Eu tenho tatuagem (uma) e nunca sofri preconceito nenhum. No entanto Infelizmente ha gente que faz mesmo tatuagens que parecem saidas de um presidio, ou enchem a cara de piercings em todo orificio disponivel. Quem quiser fazer que faca mas ninguem e obrigado a achar bonito ou gostar.

Francisco o Pensador disse...

Bem...talvez as pessoas associam as tatuagens a criminosos, rufias, irresponsáveis, toxicodependentes e/ou alcoólicos, presidiários e ex-presidiários, tipos violentos, dignos de pouca confiança, e má rês, porque, se conhecer a história do surgimento das tatuagens no mundo moderno, tomará consciência de que foi através desses grupos que as tatuagens tiveram um crescimento mais exponencialmente entre nós, logo, não se pode dizer que se trata de preconceito mas sim tão somente uma constatação de factos.

Concordo que não se deve rotular nem estigmatizar as pessoas pelo simples facto de usarem tatuagens, e isto apesar de nunca ter percebido qual é a utilidade delas, mas se a subjectividade das pessoas é algo incontornável e incontrolável, como é possível pedir-lhes que passem a aceitar algo que o seu ADN os obriga a detestar? Veja o caso daquele modelo canadense Rick Genest, conhecido por Zombie Boy, e que acaba de suicidar-se aos 32 anos. A subjectividade do Rick levou-o a achar que ter o corpo inteiro tatuado com orgões, caveiras e esqueletos era o apogeu da beleza e a minha subjectividade, por minha vez, levou-me a achar que todas aquelas tatuagens fizeram dele um ser extremamente horroroso e aberrante, logo, quem pode condenar-me por ser assim? Pode alguém controlar a sua subjectividade? Se uma pessoa estiver à minha frente e gostar de usar 3 milhões de piercings cravados no rosto, não tenho o direito de achar isso horrendo? Se você achar algo verdadeiramente nojento, alguém pode obrigá-la a não vomitar? Porque razão as pessoas devem ser obrigadas a aceitar a diferença se ela for algo anti-natura para elas?
Este meu comentário por exemplo, se esta minha ordem de ideias estiver num plano totalmente contrário à sua, e você achar-me um ser asqueroso ou execrável por pensar da forma que penso, posso eu condená-la por pensar da forma que pensa? Posso eu obrigá-la a aceitar a minha opinião e levá-la a pensar como eu? Não pois não? E será que isso faz de si uma pessoa preconceituosa em relação a mim? Acho que a questão nem pode ser colocada. São gostos...e gostos não se discutem. Aceita-se ou perdoa-se, agora, preconceito é que não é nem nunca será. Que seria do azul se todos gostássemos do amarelo...

Volto a frisar. Não é de preconceito que se trata, mas sim tão somente a subjectividade das pessoas que as leva a amar ou detestar as coisas. Ponto.