Na sociedade em que vivemos, deixar de pintar o cabelo e mostrar as raízes brancas é sinal de desleixo.
O senso comum dita que deixarmo-nos chegar a esse ponto só acontece porque temos pouco tempo, pouco dinheiro, ou porque andamos descuidadas com a nossa imagem, o que em nada abona a nosso favor. Esse é o estigma que pesa sobre as mulheres que deixam de pintar o cabelo, e é por causa dele que tantas de nós gostaríamos de deixar os cabelos naturais, mas não queremos conviver com a pressão social inerente. E quando digo "pressão social", não falo no vago. Refiro-me às amigas próximas, aos maridos, aos filhos, aos chefes e aos colegas de trabalho. Refiro-me a todos aqueles que se sentem incomodados com as nossas raízes, como se o facto de elas estarem à mostra quisesse dizer que valemos menos, quer porque estamos mais pobres, mais deprimidas, menos sofisticadas. Preconceito.
Digo isto, porque eu própria vivi muitos anos na malha destas ideias preconcebidas. E é claro que existem mulheres que deixam de pintar o cabelo pelas razões acima, leia-se, tão válidas como as que escolhem fazê-lo por motivos bem diferentes. Deixar de pintar o cabelo por ter falta de dinheiro, tempo ou por questões estéticas, ecológicas ou de saúde, estão no mesmo patamar, já que não há motivos mais ou menos nobres: há motivos pessoais e, por isso mesmo, todos legítimos.
No meu caso (e no de muitas mulheres que aderiram ao grupo de facebook, Mulheres de Prata), acolher os nossos "brancos" não tem que ver com descuido mas, ao contrário, com cuidado. Há as que o fazem por razões de saúde, por questões relacionadas com a sustentabilidade deste planeta em que vivemos, e há também as que tomam a decisão baseada em questões puramente estéticas, já que deixar o cabelo branco pode ser tão in como pintá-lo de louro platinado ou de preto azeviche.
Não quero advogar cegamente a linha dos cabelos naturais, mas defendo acerrimamente a liberdade de escolha, sem preconceitos.
Que possamos ser, todas, donas da nossa imagem, quer tenhamos cabelos grisalhos, tingidos, em transição. Tanto faz. Que possamos, sempre, ser nós próprias.
2 comentários:
Marta,
Leio-a há muito tempo mas nunca comentei. Admiro a sua coragem em todos os sentidos...a coragem para mudar de vida e ser feliz como agora de assumir as suas escolhas.
Quando for grande quer ser como você! Creio que essa coragem se trabalha mas ainda não estou nesse patamar...espero lá chegar!
Beijinho e obrigada por me inspirar diariamente!
Como eu me revejo. Eu também não pinto, apesar de todos os conselhos que me dão para o fazer.
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