sábado, 8 de novembro de 2014

Natal, crise, compras

Há quem diga que a “crise” nos mudou para melhor.
Ampliou consciências, mudou prioridades de consumo, ajudou a distinguir o essencial do acessório, fez crescer a capacidade de sermos criativos, ensinou-nos a valorizar a Natureza, os verdadeiros amigos, o papagaio lá de casa, mostrou-nos o caminho da redenção.
E eu, apesar de ser uma mulher optimista, não consigo chegar a tanto, por mais que me esforce. E juro que me esforço, todos os dias. Talvez porque sou funcionária pública e mãe de três filhos. Talvez porque sou Assistente Social e trabalhe diariamente com gente que não consegue ver o lado solar da malfadada crise. Gente que deixou {ou vai aos poucos deixando} de poder viver uma vida condigna, num processo que nem sempre é abrupto, mas que ao contrário, é triste e dramaticamente lento, como numa espécie de morte lenta.
Ainda assim, e talvez por isso mesmo, continua a valer a pena falar do Natal. Escrever sobre ele e lembrá-lo da única forma que ainda vai fazendo sentido: em família ou entre amigos; junto de quem se gosta e ao pé de quem se quer viver o resto da vida; à roda de uma mesa farta, ou à frente de um lume quentinho. Tanto faz, desde que o Natal seja o mote, a desculpa, o lembrete para nos recordarmos todos que, apesar da crise e da loucura em que este mundo anda metido, há valores que ainda permanecem. Coisas simples, que não vale a pena complicar – dizer “amo-te” mais vezes; abraçar todos os dias; ligar a quem já não se fala há muito tempo, ajudar numa tarefa pequenina, mostrar que nos importamos.
E se no seu Natal ainda houver espaço para lembranças, compre à volta do bairro, compre perto, aposte no comércio local.
Há decisões pequeninas que operam verdadeiros milagres.
E há famílias vizinhas que agradecem. Literalmente.

[texto publicado na rubrica Rua das Lojas do Roteiro 30 Dias Novembro/Dezembro]

1 comentário:

Escrever Fotografar Sonhar disse...

Deste-me uma ideia... Depois conto.