domingo, 19 de outubro de 2014

O medo

Há medos que teimamos em manter connosco durante muito tempo, como uma praga maldita. Medos que nos aprisionam sem ninguém ver. Medos que nos puxam para baixo e que nos prendem os pés. Medos que nos tolham a liberdade, que nos limitam os movimentos e, pior que tudo, que nos amordaçam a cabeça, o coração, a alma. E ninguém repara, a pior dor delas todas.
Há medos que nos perseguem anos a fio. Que correm atrás de nós para onde quer que vamos. Que nos manietam em cordas invisíveis, as piores, as mais grossas.
E há momentos em que desesperamos. Em que tudo parece negro à nossa volta. 
Somos ratos presos numa ratoeira que ninguém vê. Andamos em círculos, a tentar uma saída de emergência qualquer, numa morte lenta. Uma angústia que aperta. Um sofrimento atroz.
E depois, quando achamos que não aguentamos mais e que vamos afundar de dor e de desespero, descobrimos que fomos nós que alimentámos o medo. Porque ampliámos o poder que alguém tem sobre nós. Porque reduzimos a pó o poder que nós próprios temos. As duas coisas, talvez. Afinal, as duas conjugam-se na perfeição, como peças de lego.
E só quando tomamos consciência disso é que percebemos que a porta de saída está mesmo ali, à nossa frente. E que não há nada, nem ninguém que possa impedir a fuga. A liberdade. E que não há nada, nem ninguém que possa travar o que a vida nos reserva. Principalmente quando temos a certeza absoluta que a vida - essa miúda caprichosa que às vezes nos finta os pés - tem mesmo algo de bom à nossa espera.

Há dias em que o medo volta em todo o seu esplendor. Apanha-me de surpresa e quase me leva para debaixo da terra. Quase me come viva.
Mas depois...depois lembro-me que já sei o que é a vida em liberdade. Já conheço as estrelas de cor vistas da minha varanda. Já sei o que são gotas de chuva a baterem-me na cara. Já senti o prazer do vento no corpo todo. 
Já é tarde para voltar atrás. Impossível.
Quando se experimenta o sabor da liberdade, nada mais faz sentido.
Nem o medo.

6 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom,és muito boa na escrita ,continua sem medos.
Um bjo muito grande!!!!

Maria disse...

Que texto maravilhoso! Continue sempre, adoro ler cada palavra.
Um beijinho
Maria

Anónimo disse...

Fez-me bem ler este post.
Obrigada

Anónimo disse...


Quero tanto libertar-me desse medo!

Gelado de Pitanga disse...

Nem de propósito...!Sempre tão certeira!

Anónimo disse...

Neste momento só posso dizer-lhe:MUITO OBRIGADA!DE CORAÇÃO!