quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Dieta das Princesas [pág. 76]

"Não fui daquelas adolescentes acima do peso que lutaram com a sua imagem uma vida inteira, nem tenho como objectivo actual a perda de peso.
Olhando para trás, considero que fui uma jovem bem resolvida com o que ia vendo no espelho, sem grandes flutuações de peso {embora com umas quantas flutuações de humor}, e sem grandes questões com o meu corpo, “pertence” de que sempre cuidei com algum esmero, embora nunca sem esforço.
Entrei para a ginástica rítmica desportiva com seis anos e por lá fiquei durante dez anos, num regime duro. Os treinos diários de três horas e a carga física a que todas éramos sujeitas não deixava margem para aumentos de peso, nem para grandes descuidos com a alimentação. Menstruei tarde e houve quem parasse de menstruar durante um tempo, tal a rigidez do regime alimentar. Em competição, cruzei-me com atletas que quase só comiam folhas de alface e vi muitas colegas chorar por causa do aumento de peso, que não se notava a olho nu, mas que não passava despercebido nas pesagens e nas medições quase diárias.
Comigo foi menos penoso, não porque tivesse o corpo perfeito para a modalidade {que não tinha de todo!}, mas porque nunca viria a ser uma ginasta de sucesso. A minha batalha da altura não era com a performance das colegas, nem com os quilos a mais ou a menos, mas com o medo de falhar. Um medo que me acompanha até hoje.
Depois disso, passei por um curso de manequins em que soube que tinha rabo e mamas a mais, e pela dança de salão onde finalmente me enquadrava. As formas do corpo deixavam de ser um problema e, apesar de continuar com a preocupação de me manter “apresentável” fisicamente, podia ser eu própria dentro da minha “embalagem”. Sem aspirações a peito liso e a rabo inexistente.
Depois de 10 anos de ginástica rítmica e de outros tantos de dança, a minha vida mudou radicalmente com o casamento e com a chegada de três filhos, praticamente em escadinha. E com isto, o meu corpo também mudou.
Nunca cheguei ao limite. Ou pelo menos, ao limite visível a todos. Mas há muitos tipos de limites. Há braços flácidos que nos entristecem. Há barrigas que deixaram de ser lisas há muito tempo, há queixos que duplicam repentinamente, há mazelas que vão chegando e que não é a só idade que as traz.
Hoje, com 39 anos e três filhos entre os 6 e os 12 anos no currículo, decidi que quero voltar a sentir-me bem na minha pele. Não, não quero voltar a ter 20 anos. Gosto mais de mim assim: a saber que partes do meu corpo posso valorizar. E quero chegar aos 40 com a certeza de que o tempo passa bem. Com equilíbrio {como em tudo na vida}, e com o prazer da boa mesa que tenho vindo a refinar com a maturidade.
O resto, a vida feliz encarregar-se-á de trazer. Rugas para contarem histórias e alguns pecadilhos pelo caminho, ou a viagem não terá nunca valido a pena."

Texto publicado no livro Dieta das Princesas



7 comentários:

Rita disse...

E para quando um "by Marta" com direito a autografo? Parabéns, lindo texto!!!
Beijinho da "fã" Rita

Anónimo disse...

Excelente texto, parabéns :)T.

Frida Kahlo disse...

gosto tantoooo. estou cheia de orgulho

Miss F disse...

Gostei muito da partilha! Beijinho*

Dolce Far Niente disse...

Querida Rita, talvez um dia...:) Gostaria muito, obrigada pelo voto de confiança!

Beijocas

Dolce Far Niente disse...

Beijinhos, Miss F :) Ainda bem que gostaste. É muito bom saber isso.

Beijinhos

Dolce Far Niente disse...

Querida Frida, sei que conto contigo para tudo. É isto.