quarta-feira, 15 de maio de 2013

Querida Marta {Gautier},

Acabei de ler o seu livro "Não há Famílias Perfeitas - Mulheres, Mães e Desabafos", e estou comovida.
Comprei-o depois de ler uma entrevista qualquer que lhe fizeram em que falava do fenómeno da "culpa" na maternidade. E de como é fácil deixarmos de ser nós próprias em nome dos nossos filhos, coisa que não traz a eles, nem a nós, qualquer conforto nem nenhum estado de felicidade.
Já não me lembro das suas exactas palavras mas recordo que, nalguma parte da entrevista, desmistificava a ideia de que não é tão grave assim não ter sopa na mesa todos os dias. E {vá-se lá saber porquê!}, li-a até ao fim. E quando vi o seu livro na livraria, não hesitei e trouxe-o comigo.

Sou mãe de 3 filhos, e revejo-me em muitas das mulheres/mães que "falam" no "Não há Famílias Perfeitas".
Sou a Paula que diz "(...) se eu pudesse acabar com esta pressa que domina a minha vida (...) Corro sempre à espera de descobrir alguma coisa, de uma revelação que decida tudo, que resolva todos os enigmas e ainda possa, se faz favor, acrescentar uma missão original (...)".

Sou a Joana que diz "(...) Dizia ela [a minha psicóloga] que é pior quando brinco sem vontade, porque os miúdos reparam, desanimam, também não tiram prazer. Se não quiser jogar às cartas, mais vale dançar na cozinha enquanto mexo a panela (...).

Sou a Úrsula que diz "(...) A minha função era zelar para que não pusessem os sapatos no sofá, para que me deixassem as molduras como estavam, para que não discutissem, para que não engolissem os caroços dos alperces (...) A felicidade, a estabilidade e os pensamentos dos restantes membros da família deviam ter sempre a ver com o meu desempenho. Um dia tive um "esgotamento" e fiquei de cama durante uma semana (...) Foi assim que, à bruta, entendi que na vida não há quase nada que seja verdadeiramente grave (...) Aos poucos iniciei-me no exercício de não me desgastar nem perder tempo e bom humor com pormenores de que no fim da vida nem sequer me lembraria (...)".

Sou a Wendy que diz "(...) Eu tinha três crianças em casa. Existe maior privilégio que isso? (...) Esta noite percebi que posso vir a lamentar não ter olhado mais para os que amo, como deve ser, não ter perdido mais tempo a imaginar formas de os fazer mais felizes, de não me ter rido mais (...)".

Querida Marta, li o seu livro numa penada e tenho vontade de o oferecer, com Amor, a muitas amigas {que tal como eu, nem sempre lidam bem com algumas "culpas"}, assim como de o esfregar na cara de quem, no alto do seu pedestal, se apressa a criticar as mulheres que se atrevem a querer continuar a viver a sua vida depois da maternidade, e a ser muitos felizes com os filhos, até nos pequenos pecadilhos.

Hoje fizemos aquilo a que chamamos de "jantar americano". Cachorros, mostarda e ketchup a potes e muitas batatas fritas no prato. Cada um preparou o seu hot dog a gosto, a cozinha ficou nojenta e as camisolas de cada um deles também.
E fomos muito felizes juntos.

Um beijinho da também Marta.
{E já agora, nunca deixe de escrever}.





5 comentários:

Imensidão dos dias disse...

Fiquei com vontade de ler... Obrigada pela partilha.

Anónimo disse...

Eu própria senti necessidade de reler! Assinado: marta gautier

Helena Barreta disse...

Não conheço este livro, mas pelos excertos fico com a ideia que é mais ou menos o que vi no "Vamos lá então perceber as mulheres. Mas só um bocadinho", no Teatro Confluência, em Cascais e adorei. Recomendo vivamente.

Um abraço apertado

Marta Anico disse...

Minha querida homónima, só sou mãe há 4 meses mas o bicho da "culpa" já se instalou. Qdo vou às minhas aulas de pilates, qdo vou tomar café com uma amiga e, sobretudo, qdo o corpo me pede voltar a trabalhar... Por isso venho aqui a este cantinho desabafar, sei que me compreendes. É que para além de mães, que é maravilhoso, somos muitas outras coisas. Bjs

a mãe disse...

Com isto fiquei com imensa vontade de ler o livro... tb eu sou mae de 3, tendo um deles ainda nem um mes... e tambem eu lido com a culpa de querer ter sempre tudo arrumado... de quando penso nisso, afinal... nao aproveitei o que devia...
e Ser mae nao e sermos perfeitas...repito isto a mim propria todos os dias....
As vezes funcioona... outraas nem por isso.

beijinhos