segunda-feira, 15 de outubro de 2018

"Infelizes e juntos para sempre, até que a morte nos separe?"


Não sou apologista do divórcio, mas defendo-o como um mal necessário sempre que estamos perante um "mau casamento".
E o que é um "mau casamento"?

É uma relação destrutiva para, pelo menos, uma das partes. 

É uma relação que traz tristeza e desesperança a, pelo menos, uma das partes. 

É uma relação que faz infeliz, pelo menos, uma das partes.

Se reparares, em nenhuma destas afirmações inseri os filhos, o dinheiro, nem a pressão social e familiar, porque perante um "mau casamento", nenhum dos factores acima deveria ser razão para evitar o divórcio. Bem sei que a realidade não é esta. Há mulheres e homens que não se divorciam por causa dos filhos. Há mulheres e homens que não se divorciam por razões financeiras. Há mulheres e homens que não se divorciam pela pressão da família e da sociedade. Pergunto-me, contudo, se as mulheres e homens que não se divorciam "apenas" por uma das razões acima, por algumas delas ou por todas, levam vidas felizes. E por vidas felizes, refiro-me a uma existência que lhes traga serenidade, segurança e sentido de propósito.
Também fiz questão de referir que basta uma das partes sentir tristeza, desesperança e infelicidade para estarmos perante um "mau casamento", porque tal como no tango, o casamento só se dança a dois, embora tantas vezes nos esqueçamos disso, porque queremos muito que resulte, porque entramos em negação, porque temos medo de sermos deixados ou de deixarmos alguém e fazermos sofrer, porque, porque, porque.
A verdade é que, por mais doloroso que seja para todos os envolvidos, levar a vida para a frente, fechar ciclos e recomeçar de novo implica, por vezes, passar pela experiência da separação ou do divórcio. E ainda que algum sofrimento seja inevitável, é preciso abalar crenças para que o processo decorra com o mínimo de efeitos secundários.

Partilho convosco aquelas que, no meu processo, precisei derrubar:

1. Os filhos serão, inevitavelmente, infelizes depois do divórcio dos pais;
2. O dinheiro será sempre um problema com o divórcio (por razões culturais, esta crença abala mais as mulheres);
3. Os pais que se divorciam ficarão com a relação parental, irremediavelmente, empobrecida.

Abalar crenças requer tempo, coragem e, é preciso dizer, ajuda, mas a boa notícia é que elas se abalam. Vamos começar a desconstruir algumas?

Crença 1. Os filhos serão, inevitavelmente, infelizes depois do divórcio dos pais.

A estabilidade emocional dos nossos filhos depende da nossa, por isso, tem atenção ao que lhes dizes, à forma como constróis a tua narrativa à volta do divórcio e às narrativas dos outros, a que as crianças ficam expostas. Elas ouvem e sentem tudo, ainda que possam parecer alheadas. E também fantasiam e criam fantasmas, quando a informação não lhes é passada em tempo útil e de forma adaptada à idade e à circunstância. Não subestimes a sensibilidade do teu filho para perceber que algo se passa. E certifica-te que, apesar de tudo, ele não sente que o chão lhe está a fugir debaixo dos pés. Tu e o pai continuam a ser pais, e é vossa responsabilidade transmitir segurança, estabilidade e Amor, independentemente das marés vivas em que possam estar a navegar. E lembra-te sempre: é pelas lentes dos adultos que as crianças olham o mundo que as rodeia. A tua visão será a deles, assume a responsabilidade.

Crença 2. O dinheiro será sempre um problema com o divórcio.

Perder a autonomia financeira com o divórcio é, infelizmente, uma realidade efectiva em muitos casos, mas arrisco-me a dizer que em muitas das situações, não falamos de perda de autonomia financeira, mas de perda de um determinado estilo de vida que o casamento proporcionava. Se for este o caso, é preciso reavaliar valores e prioridades, pesar prós e contras e decidir o que é realmente importante para ti.

Crença 3. Os pais que se divorciam ficarão com a relação parental, irremediavelmente, empobrecida.

Já escrevi sobre isto muitas vezes, mas repetirei sempre: A relação que os pais estabelecem com os filhos depois da separação ou do divórcio, é uma escolha, não é uma triste inevitabilidade. O divórcio não pode ser, em nenhuma circunstância (a não ser na negligência e no mau-trato), razão para alienar um dos progenitores ou para desaparecer da vida das crianças. O acesso a ambos os pais é um direito dos filhos, e se é verdade que a rotina é difícil,e que as exigências são muitas, também é verdade que essa será sempre uma responsabilidade e um dever dos adultos.Os filhos agradecem.


Não sou apologista do divórcio, mas sou defensora acérrima do direito que todos temos a ser felizes em qualquer fase da vida, mesmo que isso implique acertar o passo nalgum momento. Sermos infelizes até que a morte nos separe soa mal, mas é, infelizmente, o que acontece a muitos casais. É preciso pensar nisto com frontalidade, ainda que mortos de medo. Porque há vida para além do divórcio. 





1 comentário:

Monica disse...

Tão verdade

O problema é que a parte que se sente " feliz" não entende, não digere e sendo a meu ver "pouco inteligente", dispara nos filhos, vi tanto isso acontecer á minha volta, fiz de tudo e sim posso dizer que fiz de tudo para evitar isso á minha filha, mas sendo só eu, faltava o para para dançar o tango comigo!!!!
Porque segundo reza a historia, eu era a unica que não estava bem!!!!