Só conhecia o Pedro Rolo Duarte dos jornais, da televisão e da rádio mas, à descarada, mandei-lhe um mail com o assunto "uma proposta indecente" a convidá-lo para escrever o Prefácio do livro "As Mulheres Não Sabem Estar Caladas" que, em 2014, publiquei com duas amigas e que era a compilação de textos dos blogues que cada uma escrevia. Esperávamos uma resposta negativa politicamente correcta, mas ao contrário recebemos um "sim" e um convite para um café a quatro, para perceber melhor o que esperávamos dele. Encontrámo-nos na Pensão Amor, mortas de nervos, tomámos um gin, não nos calámos (como o livro prometia) e apaixonámo-nos pela simplicidade e generosidade do Pedro.
Passado pouco tempo, recebi um mail seu com o Prefácio que agora publico aqui, e com a indicação de que poderíamos "(...) editar, cortar, ou mesmo deitar fora (...)".
Esta foi a generosidade do Pedro com três mulheres que não conhecia de lado nenhum. Uma generosidade que acabou por se estender à apresentação do nosso livro no dia 8 de Maio de 2014 (na véspera do meu casamento), e no testemunho que deu a um programa de rádio em que fomos entrevistadas e que nos pôs às três a chorar.
Este Prefácio é o legado que me deixou a mim, à Carla e à Ana e este post é o singelo agradecimento que lhe deixamos (acho que posso falar em nome das três)...
E se elas se calam?
Até conhecer
a Ana Almeida, a Carla Rocha e a Marta Moncacha, eu achava que as mulheres não sabiam estar caladas. Agora que as conheço, tenho a certeza. E isso é bom, porque convoca, inspira e compromete o livro que tem entre mãos.
Ora, a primeira virtude deste
livro reside nele mesmo: o leitor só as
deixa falar quando quer, quando lhe apetece. Elas estão ali, à mão de semear, mas obedientes ao dono do livro, que o lê ao seu ritmo, no seu tempo. Parece misógino? Talvez seja. Mas também é verdadeiro: este livro é seguramente o único
momento em que estas três mulheres se deixam ficar.
No resto, basta lê-las para se entender o que senti quando as conheci
pessoalmente: não se calam nem se deixam ficar. E essa é a qualidade que as distingue, que as fez chegar a um
livro, e que me derreteu sem dó nem piedade.
Quis o destino que as três se encontrassem. Primeiro, na mesma geração, com vivências
semelhantes, com um sentido de humor próximo,
com cumplicidades em dose generosa - ainda que com todas as diferenças, como a cara de qualquer um de nós: sinal aqui, ruga acolá,
dente mais afastado, queixo mais afilado. Depois, quis (também) o destino que se encontrassem no mesmo local de
trabalho e, por fim, na mesma plataforma - a blogoesfera. Se fosse combinado, não correria tão bem:
aos poucos, em cada um dos seus blogues, foi nascendo um conjunto de ideias, de
textos, de desabafos, de observações,
que se complementam e completam, e que até quando
se opõem acabam por se “amigar”. Sendo um livro com seis mãos, tem na verdade uma única
- a mão comum destas mulheres tão diferentes e, afinal, tão próximas…
O que primeiro me atraiu
(confesso: só
conhecia um dos blogues até ser desafiado para este texto…) foi a atitude e a pose das autoras: despojadas,
simples, com um apurado sentido de humor. Falam de coisas sérias, mas não se
levam demasiado a sério. Sabem rir de si próprias, mesmo no meio do caos e da desgraça. São pessoas comuns nas suas
vidas - mas incomuns e extraordinárias,
porque têm a capacidade de transformar o óbvio do dia-a-dia em textos, exclamações, crónicas, que nos deixam ora a
rir, ora a pensar, ora com uma pontinha de comoção,
até mesmo com uma saudável
inveja.
O amor da Marta deixou-me com
saudável e doce inveja, e foi essencial para alguns dias
mais cinzentos. Como ela escreve, “há sempre quem precise de saber que exista. Às vezes, para ganhar balanço e saltar”. E
saltando, encontrei-me com a Carla na esquizofrenia que é a modernidade, e que sinto diariamente: “Comprei o jornal i por causa da Assunção Esteves e o Blitz por causa do Nick Cave. Insanidade
ou mundo interior? Tombo para a primeira”.
Tombando e tentando endireitar-me, revi-me nas palavras da Ana: “Nem sempre são os
choros que fazem mais barulho. Há silêncios
piores”.
Sou homem mas nem por isso deixei
de me identificar, de me rever, e de ter vontade de telefonar a qualquer delas
para lhes dizer “é que não é mesmo nada disso”, ou “podia ter sido escrito por
mim”. Este livro tem esse efeito: parece nosso, sendo delas,
página a página,
nos encontros e desencontros que qualquer leitor tem com a Ana, a Carla, a
Marta. Juntas ou separadas - em rigor, separadamente juntas na vida e neste
livro.
No fim, volto ao principio.
Depois de as ler, depois de as conhecer, a duvida que me resta, mistura de
pergunta e receio, é outra: e se elas se calam?
Falo por mim: não quero que isso aconteça.
Neste livro e na vida.
Pedro Rolo Duarte
Abril 2014"
1 comentário:
Pedro, querido Pedro!!!!
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