segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Não há almoços grátis [e então?]


Ninguém disse que o nosso caminho juntos iria ser fácil. Ambos temos longas histórias antes deste mundo chamado "nós", e ainda há pesos que carregamos aos ombros como cruzes, a lembrar que apesar do caminho já percorrido e de toda a cautela com que ultrapassamos cada obstáculo, todos os recomeços têm um preço.
Às vezes pergunto-me de quanto tempo preciso mais, para me ver liberta do estigma de ter decidido dar um novo rumo à minha vida. Em pleno século XXI, decidir coisas no feminino ainda é um salto de fé do caraças! Quando são as mulheres "a virar a mesa", ainda há familiares que viram as costas, amigos que desaparecem para sempre, ex-companheiros que não se resignam, um mundo de preconceitos tão antigo como a história da Humanidade.
À minha volta nascem como cogumelos, histórias de mulheres que, como eu, decidiram partir para outra, e nenhuma é simples. Aquela a quem o pai deixou de falar, a outra a quem o marido deixado persegue e chantageia, e outras mulheres (tantas!), que com medo disto tudo se vão deixando ficar no marasmo e na tristeza. Porque talvez o marasmo e a tristeza tenham, apesar de tudo, um preço mais baixo que a liberdade de escolha e o direito de tentar voltar a ser feliz. Não as condeno, porque isto dá um trabalho dos diabos e às vezes, dói demasiado.
Grande parte da minha história tem sido feliz e é essa que gosto de partilhar aqui. Mas também é preciso falar dos obstáculos, das dificuldades, dos preconceitos e dos juízos de valor que ainda recaem sobre as mulheres que decidem acabar um casamento. 

Nestes últimos dias, por razões que não importa aqui explicar, fiz uma descoberta reveladora, quase uma epifania: o primeiro passo para nos libertarmos do estigma dos outros que nos persegue, é livrarmo-nos do peso da culpa que nos invade, e recusarmo-nos a ser as eternas vilãs de um enredo que, raramente, tem só um culpado.
Já cumpri a minha pena, já me auto flagelei o suficiente e já não devo nada a ninguém. As minhas contas estão saldadas. É tempo de perder o medo. Finalmente.