“Divórcios Felizes”?
por Ana Varão, Psicóloga e Mediadora Familiar*
A
separação e/ou divórcio poderá assumir diversas formas. Porém, de um modo geral
poderá afirmar-se que, enquanto momento de crise e ruptura na vida do casal,
apresenta-se como um período susceptível de gerar desajustamento emocional,
acarretando sofrimento para todos os membros da família.
Na
verdade, não existem divórcios ou separações fáceis, particularmente nos casos
em que o casal tem filhos pequenos. Enquanto período conturbado, colocam-se a
todos os elementos familiares desafios e exigências.
Ainda
que o processo de separação e/ou divórcio se revele um acontecimento difícil e
um abalo intenso na vida familiar, podemos falar em divórcios bem ou mal
sucedidos. Em primeiro lugar, devemos manter as crianças longe do conflito.
A par disso, torna-se essencial garantir aos filhos que o contacto com ambos os
progenitores será mantido, assim como o amor destes. A questão coloca-se não no
divórcio em si, mas antes no modo como os progenitores o conduzem. O que está
em causa num “divórcio bem sucedido” é a qualidade da relação familiar, antes,
durante e após a separação conjugal. É a garantia de que a família sobrevive à
ruptura do casal, e que a parentalidade persiste para além da conjugalidade.
Na minha prática clínica
como Psicóloga, é com satisfação que recebo pais que me pedem ajuda no sentido
de evitar, de algum modo, causar “danos” emocionais nos seus filhos como
resultado da decisão de separação. Estes casos têm normalmente muito bom
prognóstico uma vez que estamos perante pais que, apesar das suas divergências,
têm em comum uma genuína preocupação com o bem-estar dos seus filhos e que
conseguem por à frente dos seus sentimentos de zanga e mágoa, os interesses das
crianças. A minha intervenção assume aqui um papel bastante preventivo e
informativo, conduzindo todos os elementos da família a atravessar de forma
positiva e adaptativa cada etapa do processo de divórcio: desde o momento de
dar a notícia aos filhos, passando pela saída de um dos progenitores de casa,
até ao período pós-divórcio onde todas as relações e interacções familiares
terão de ser reajustadas. A intervenção é focada sobretudo nos progenitores que
precisam aprender a deixar de se relacionar enquanto casal e
funcionar enquanto pais separados, mas unidos no projecto de educar a criança. O desafio é que dois
sistemas parentais funcionem conjuntamente - coparentalidade positiva - sendo promovidos padrões saudáveis de
comunicação, cooperação, respeito e apoio mútuo.
O
aparecimento de alterações comportamentais nas crianças com a separação tem
sido fortemente relacionado com a existência de desentendimento parental. Pais
altamente conflituosos recorrem com frequência aos Tribunais e envolvem-se
diversas vezes em situações de incumprimento das suas responsabilidades
parentais. O recurso desproporcionado às instâncias judiciais para resolução de
conflitos e disputas familiares acarreta custos e tem consequências a vários níveis
nos intervenientes. As crianças são envolvidas nesta batalha entre oponentes e
conquista de lealdades, chegando mesmo a participar de falsas alegações contra
um dos progenitores. Infelizmente o litígio promove ainda mais conflito,
hostilidade e ressentimento, criando-se formas cada vez mais distorcidas de
comunicação. Por conseguinte, estes padrões alterados de comunicação constituem
um obstáculo ao desempenho eficiente das tarefas de coparentalidade.
Enfim,
a investigação sugere que as alterações na comunicação interparental e nas
relações pais-filhos, e a falta de contacto entre progenitores inibem o
funcionamento eficiente da família, tornando mais difícil a coparentalidade. Ao
invés, as crianças serão melhor ajustadas quando os seus pais trabalham em
conjunto após o divórcio por forma a promover as suas necessidades, como é o
caso das famílias que recorrem aos serviços de Mediação Familiar e que procuram
formas conciliadoras de resolução de conflitos. Assim sendo, a melhor ajuda que os pais divorciados
podem dar aos seus filhos, será sem dúvida, a garantia da cooperação e
comunicação efectiva no que concerne às decisões relevantes da vida da criança.
Podemos
falar em “divórcios felizes” se os pais:
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• Mantiverem as
crianças longe do conflito interparental ou de questões de lealdade
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• Minimizarem as
mudanças nas rotinas da criança
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• Mantiverem uma
relação afectiva positiva e emocionalmente significativa com os filhos
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• Mantiverem
entre si um relacionamento cordial marcado pelo respeito mútuo, comunicação positiva
e cooperação, distinguindo papéis parentais de papéis conjugais
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• Facilitarem e
promoverem o saudável contacto e convívio da criança com ambos os
progenitores e família alargada
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*[Psicóloga, Mestre em Sexologia e Mediadora Familiar, Ana Varão é fundadora da Red Apple onde, para além das funções de gestão, assume o recrutamento de formadore e de colaboradores únicos e dinâmicos para a sua equipa, e pesquisa temas criativos e inovadores para as fomações. É, também, a mãe babada de duas crianças]