Olhando para trás, considero que
fui uma jovem bem resolvida com o que ia vendo no espelho, sem grandes
flutuações de peso {embora com umas quantas flutuações de humor}, e sem grandes
questões com o meu corpo, “pertence” de que sempre cuidei com algum esmero, embora
nunca sem esforço.
Entrei para a ginástica rítmica desportiva
com seis anos e por lá fiquei durante dez anos, num regime duro. Os treinos
diários de três horas e a carga física a que todas éramos sujeitas não deixava
margem para aumentos de peso, nem para grandes descuidos com a alimentação.
Menstruei tarde e houve quem parasse de menstruar durante um tempo, tal a
rigidez do regime alimentar. Em competição, cruzei-me com atletas que quase só
comiam folhas de alface e vi muitas colegas chorar por causa do aumento de
peso, que não se notava a olho nu, mas que não passava despercebido nas
pesagens e nas medições quase diárias.
Comigo foi menos penoso, não
porque tivesse o corpo perfeito para a modalidade {que não tinha de todo!}, mas
porque nunca viria a ser uma ginasta de sucesso. A minha batalha da altura não
era com a performance das colegas, nem com os quilos a mais ou a menos, mas com
o medo de falhar. Um medo que me acompanha até hoje.
Depois disso, passei por um curso
de manequins em que soube que tinha rabo e mamas a mais, e pela dança de salão
onde finalmente me enquadrava. As formas do corpo deixavam de ser um problema e,
apesar de continuar com a preocupação de me manter “apresentável” fisicamente,
podia ser eu própria dentro da minha “embalagem”. Sem aspirações a peito liso e
a rabo inexistente.
Depois de 10 anos de ginástica
rítmica e de outros tantos de dança, a minha vida mudou radicalmente com o
casamento e com a chegada de três filhos, praticamente em escadinha. E com
isto, o meu corpo também mudou.
Nunca cheguei ao limite. Ou pelo
menos, ao limite visível a todos. Mas há muitos tipos de limites. Há braços
flácidos que nos entristecem. Há barrigas que deixaram de ser lisas há muito
tempo, há queixos que duplicam repentinamente, há mazelas que vão chegando e
que não é a só idade que as traz.
Hoje, com 39 anos e três filhos
entre os 6 e os 12 anos no currículo, decidi que quero voltar a sentir-me bem
na minha pele. Não, não quero voltar a ter 20 anos. Gosto mais de mim assim: a
saber que partes do meu corpo posso valorizar. E quero chegar aos 40 com a
certeza de que o tempo passa bem. Com equilíbrio {como em tudo na vida}, e com
o prazer da boa mesa que tenho vindo a refinar com a maturidade.
O resto, a vida feliz
encarregar-se-á de trazer. Rugas para contarem histórias e alguns pecadilhos
pelo caminho, ou a viagem não terá nunca valido a pena."
7 comentários:
E para quando um "by Marta" com direito a autografo? Parabéns, lindo texto!!!
Beijinho da "fã" Rita
Excelente texto, parabéns :)T.
gosto tantoooo. estou cheia de orgulho
Gostei muito da partilha! Beijinho*
Querida Rita, talvez um dia...:) Gostaria muito, obrigada pelo voto de confiança!
Beijocas
Beijinhos, Miss F :) Ainda bem que gostaste. É muito bom saber isso.
Beijinhos
Querida Frida, sei que conto contigo para tudo. É isto.
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