terça-feira, 12 de março de 2019

Pais cuidadores



Entre os 19 e os 28 meses do Vicente, deixei assumidamente de ser a sua cuidadora principal. Escolhi abraçar um projeto profissional desafiante, e durante 9 meses deixei de o levar e trazer da creche, de o passear ao final do dia, de o adormecer, de estar presente como tinha estado até ali.
Esses nove meses mudaram a nossa relação, porque como não estava física e emocionalmente disponível para o meu filho, ele entregou-se ao pai que (curiosamente no tempo de uma gestação), ganhou um bebé ávido de amor e de atenção.
Já se passaram seis meses desde que voltei a ter disponibilidade para o Vicente e ainda é o pai que ele chama quando se magoa, quando tem fome ou sede, quando se sente perdido, quando precisa de mimo. Acredito que tem sido um caminho mais difícil para mim do que para o Vicente, que nunca deixou de ter um colo pronto e seguro.
A crença que tinha de que a mãe é a única que sabe cuidar, é um mito que me caiu por terra dentro de casa. Os filhos precisam de colo, de vinculação, de entrega emocional, mas acredito agora que tanto a mãe, como o pai verdadeiramente investidos, podem nutri-los de igual modo.
Esta descoberta e convicção ajudam, também, na hora do divórcio. Quando os filhos estão com o pai, estão com alguém que, quando empenhado e responsável, sabe ser cuidador. Menosprezar esta sua capacidade é diminui-lo, mas é mais que isso: é diminuir o mundo interior dos nossos filhos. É privá-los de uma parte que também lhes pertence.
Se dói passarmos tempo sem os nossos filhos? Dói horrores, ficamos em carne viva. Mas essa é a nossa dor e é da nossa inteira responsabilidade geri-la. A dor dos nossos filhos é perderem um dos pais e ficarem com o Amor pela metade.

1 comentário:

A TItica disse...

Vejo muito isso às vezes no dia a dia... se passa mais tempo com o pai ao final do dia, também é por ele que chama mais vezes... mas felizmente vai alternando a não chego a ficar em carne viva... felizmente repito!