sexta-feira, 25 de abril de 2014

Há 40 anos

Há 40 anos atrás o meu pai participava na revolução e a minha mãe fugira comigo dentro para o Algarve, a mando do marido, que temia o pior.
A primeira canção que aprendi foi "A Gaivota" e embora tenho nascido em Julho de 74, sinto-me sempre uma filha de Abril. 
Cresci a ouvir falar dos valores da Democracia e da sorte que tive em nascer em liberdade, e embora não tenha conhecido o peso da Ditadura, sei como ela marcou pessoas que amo muito. 
Ao contrário do que se vai ouvindo por aí, acho que se andou um bom bocado nestes 40 anos, e a prova disso é a minha geração (a que estreou a liberdade), estar apesar disso, a anos luz de uma realidade que mais parece ficção: como é que não se saía do País sem autorização do marido? Porque raio é que as enfermeiras não casavam? Como é que três pessoas juntas na rua incomodavam o regime?
A minha geração (e as seguintes, menos ainda), não sabem o que isso era e ainda bem. Afinal, nascer e crescer em liberdade é um dado adquirido para nós.
Mas os meus filhos sabem bem o que aconteceu há 40 anos atrás. Apenas para nunca se esquecerem de duas coisas: há batalhas que merecem ser travadas e quase nada é adquirido, mesmo que possa parecer. Ensinamentos que podem valer ouro nos dias que correm.