quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Quando [quase] nada faz sentido neste País

Quando escrevi este post, não esperava as inúmeras reacções que me têm chegado. 
Nem esperava emocionar-me, como com este testemunho...

"Ai, Marta, se eu te falasse de angústias... Quando fiz o estágio profissional há 16 anos atrás, achava que estaria uns três ou quatro anos com horários incompletos e acabaria por entrar no sistema. Dezasseis anos depois estou pior do que quando comecei. Todos estes anos foram uma angústia... passar férias com a culpa de estar a gastar dinheiro... Não sabia se no ano seguinte seria colocada, se teria um horário de 9 ou 22h - ou seja um vencimento de 400 ou de 1000 euros... e a angústia da quarta-feira? Dia de colocação semanal. Abres o computador (quando comecei era através do carteiro que já conhecia o meu desespero e que me tocava à campainha sempre que chegava...), a internet nesse dia é sempre lenta e, finalmente, acedes à lista. Vais sempre com muita esperança e... normalmente estás na lista de NÃO COLOCADOS. E quando ficas colocada sentes um misto de alegria e angústia - vou para onde, como será a escola, quanto tempo é que vou demorar a lá chegar, como serão os colegas, que estratégias terei de utilizar com aqueles alunos...e com tanta angústia, comecei a adiar a vida. Não tinha filhos porque com 400 euros é difícil manter carro e despesas da casa (a renda paga pelos meus pais). O meu marido ajudava, mas o seu salário de professor também não dava para muito, pois já tinha dois filhos para sustentar. O carro até o podia deixar de lado se neste país houvesse transportes de jeito... fui muitas vezes de transportes para várias escolas e era ridículo o tempo que demorava... de Carnaxide a Caxias (uma hora), de Carnaxide à Cidadela (1h45m), de Carnaxide ao Forte da Casa (2h30m) - foi a gota de água... arrisquei e comprei o carro. Arrisquei e tive um filho. Depois de andar 16 anos a fazer o que mais desejei na vida, encontro-me uma vez mais no desemprego sem saber se algum dia poderei voltar ao meu sonho de ser PROFESSORA. Quando me imagino noutra profissão, não consigo conter as lágrimas... gostaria muito de ter tido mais um filho, mas não há dinheiro. Gostaria de passar férias na praia com a minha família - vamos ver... Gostaria de voltar a entrar numa sala de aula numa ESCOLA PÚBLICA... talvez um dia... porque só me sinto totalmente feliz numa sala de aula. Felizmente tenho um filho lindo, um marido impecável, uma mãe adorável... QUERO TANTO ACREDITAR QUE AINDA POSSO VOLTAR A SER FELIZ!"

[Agradeço à autora deste comentário a grandeza da partilha]


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