domingo, 11 de dezembro de 2011

Quando as Crises Agitam

Ontem à noite, quando saí do carro para me banquetear com o hamburguer de alheira que anda na boca do povo nos últimos dias, dei de caras com dezenas de pessoas numa fila, à espera da sopa quente da noite e de alguns agasalhos.
Estava muito frio e chovia, mas nada parecia demover as famílias que pacientemente aguardavam a sua vez, nem os voluntários identificados com um colete fluorescente, que deixavam a sua casa (provavelmente) quente, para passar o serão a aquecer o estômago e o coração de quem ontem mais precisava.
Olhando os rostos de algumas daquelas pessoas, constatei, in loco, o que se ouve e lê por aí.
Que o estigma do pobre mudou.
Que já não falamos somente da pobreza crónica, nem geracional.
Que já não são só aqueles que, por várias razões, fazem parte do grupo das "famílias carenciadas" desde que nasceram, que acorrem à sopa quente da noite, servida por um voluntário, numa carrinha cheia de arcas congeladoras e cubas e casacos.
Na verdade, já não é dessa realidade que falamos.
Falamos de famílias que já não conseguem fazer face aos desafios diários e que, quase sem dar conta, caíram na outra margem. A da pobreza e da carência extrema.
Esta constatação assusta os mais distraídos.
Porque "os pobres" já deixaram de ser "os outros".
Já deixaram de ser aquela realidade distante, que só acontece aos que já nasceram em berço de lixo, aos gatunos, aos atrasados mentais, aos alcoólicos e aos toxicodependentes.
A pobreza é, agora, palpável. Está à porta. Preparada para entrar quando o terreno é propício.

A crise é uma merda.
Mas, ao menos, que sirva para desconstruir alguns preconceitos. E para todos percebermos de uma vez por todas, que pobres ou ricos, somos pessoas. Aqueles seres de carne e osso que são capazes da maior generosidade. E das maiores atrocidades:
A Indiferença.
A Intolerância.
A Ignorância.

MM