terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Herança


Umas das minhas resoluções para 2016 foi cozinhar mais para a família.
Tenho a sorte de ter um marido dotado para estas lides e que considera a preparação das refeições, verdadeiros momentos terapêuticos. Gosta de se enfiar sozinho na cozinha, de Radar aos altos berros e com um copo de vinho tinto no balcão, a inventar pratos com tudo o que encontra à mão.
Por isto, e porque não sou a mulher mais criativa na cozinha, fui-lhe deixando gradualmente essa tarefa, entrando em campo mais pontualmente, e com pratos que não são dignos de nenhuma nota. Sou master na massa com atum e vou fazendo uns básicos que têm tão pouco de margem de erro, como de  deslumbre. Comem-se, até se repetem, e servem o propósito nobre de alimentar a família, mas não deslumbram, nem deixam marca. De tal forma não deixam quase nada, que fiquei a pensar que não quero ser lembrada pelos meus quatro filhos, como a mãe que fazia a melhor massa com atum do universo. Quero um pratinho melhor. Quero ser a matriarca que reúne a família alargada - filhos, noras, genro e netos - à volta da mesa daqui a uns anos. E quero surpreender.
Posto isto, estou empenhada em fazer melhor durante este ano. E conto com a ajuda do meu homem e da melhor cozinheira que conheço para me apoiarem. E também conto com as memórias de infância que a minha avó Auzenda me deixou e que marcaram, para sempre, o meu gosto pela boa mesa.
Foi a pensar nela que decidi fazer diferente. Para poder deixar aos meus, um legado parecido com o que ela me deixou. A melhor herança de todas.

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