segunda-feira, 17 de agosto de 2015

De óculos novos [ou como ver a maternidade de outra maneira]

[Foto:Carla Rocha]

Quando os meus filhos eram mais pequenos, tinha sérias dificuldades em divertir-me na sua presença. A angústia de querer fazer tudo bem e a culpa de fazer tanta coisa mal {como todas as mães, acho eu}, roubava-me metade do prazer da maternidade. 
Eram as refeições e os banhos e a parafrenália louca para sairmos de casa e as birras e o calor e o frio e as constipações e as alergias ao sol e a ditadura dos horários para tudo e mais um par de botas.
Estar em casa e sair de casa com os meus filhos era difícil, porque nunca fui uma mãe descontraída, e sempre invejei as que faziam tudo com os miúdos pequenos às costas, como se nada nas suas rotinas tivesse mudado com a maternidade. Para mim, mudou tudo.
Talvez seja por isto que, só agora, que os tenho com 13, 11 e 8 anos, começo a desfrutar da sua companhia com uma espécie de suspiro de alívio, de quem conteve a respiração durante demasiado tempo. Estas idades trazem outro nível de preocupações, mas já permitem que me recoste numa cadeira porreira, e que descontraia. 
Na sua presença, já consigo ter uma conversa entre adultos com princípio, meio e fim, e com eles também. Já lancham e tomam banho sozinhos, já se secam depois da piscina sem a minha interferência, já brincam uns com os outros sem que precise mediar grande coisa, já riem das mesmas coisas que eu, já comem sem que lhes esteja sempre a dizer que devem tirar os cotovelos de cima da mesa, ou que têm que levantar o prato quando acabam a refeição.
Esta fase inaugura um mundo novo de preocupações, mas devolve-me a possibilidade de ser mulher e mãe num tempo comum e sem nenhuma culpa. E essa conquista, é das melhores dos últimos tempos.

[Carla Rocha, obrigada pelo fim-de-semana em família. E por tudo o resto, que tu sabes]

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