quinta-feira, 23 de julho de 2015

Correr de madrugada

Acordo às seis e vinte da manhã encharcada em suor. Devem estar 30Cº no quarto, apesar da ventoinha que temos a girar no tecto sobre nós a noite inteira.
O calor precipita-me os sonhos mais variados e alguns pesadelos dignos de thrillers de renome. Dou voltas e voltas na cama e, por mais que me esforce, não consigo entregar-me a um sono profundo.
Desisto e levanto-me irritada com a súbita falta de ar. Visto-me devagar e em silêncio para não te acordar o sono leve, engulo um copo de água e uns bocados de melancia {tenho comido por cá as melhores dos últimos anos}, abro as portadas para o terraço e inspiro o ar ainda fresco da manhã. São 6:50H e sinto que consigo finalmente respirar. O sol ainda é muito ténue, quase inexistente, e não se ouve vivalma na rua.
Começo a minha empreitada de poucos quilómetros, cinco, porque o meu objectivo destas férias tem sido correr mais rápido. Tem dias que sim, outros que nem por isso. 
Inspiro o ar fresco como se tivesse estado debaixo de água tempo demais. Ouvem-se alguns pássaros à minha passagem, e mais nada para além da minha respiração ofegante e da minha passada. As lágrimas caem-me cara abaixo, do vento a bater-me nos olhos ainda meio cerrados e dos desgostos que guardo cá dentro. Nenhum em particular, mas fantasmas que fui coleccionando vida fora e que purgam nas horas mais estranhas. De madrugada, a correr sozinha.
Decido não parar. As malditas lágrimas não irão boicotar o meu treino, nem as minhas boas intenções madrugadoras.
Continuo, quase sempre sem ninguém à minha volta. Os cafés estão ainda fechados, a nossa pastelaria ainda silenciosa, alguns cães levantam a cabeça ensonados à minha passagem, e de onde em onde, cruzo com velhotes no seu exercício matinal.
Ao segundo quilómetro desabo junto a uma parede branca. As lágrimas do início transformam-se, subitamente, num rio sem fim à vista e dou-me o privilégio de parar por uns segundos para me recompor e para sentir a dor. Dores de crescimento, acho eu.
Recomeço, finalmente. Vou até à rotunda e dou a volta, como de costume, exactamente aos dois quilómetros e meio de corrida. Falta-me metade até casa e algumas subidas pouco simpáticas.
Não choro mais. A purga está feita e o dia ganho.
Volto para ti, meu amor. E para este "nós" que me exalta o corpo e que me conforta a alma todos os dias e todas as noites.
Obrigada pelos teus abraços todos. E por me acompanhares, tantas vezes sem perguntas.

Sem comentários: