terça-feira, 30 de junho de 2015

Terapia a céu aberto

Ontem foram 5km a tentar correr mais rápido. A espantar medos, a organizar ideias, a ressacar das corridas todas em que me tenho inscrito e que tenho falhado. 
Não estar com os meus filhos todas as semanas do ano faz-me isto. Coloca em stand by a vida que continua para além deles nas semanas que me pertencem, e enfraquece-me a vontade e a coragem de lhes faltar quando estão por cá.
A gestão disto na minha cabeça nem sempre é fácil. Empurro com a barriga e com coração quase todos os meus compromissos para as semanas sem filhos. Tento arrumar cada dia e cada hora como um puzzle, às vezes, difícil de encaixar. Esforço-me por cumprir quase todos os afazeres, quando não estão. Faço tudo para concentrar a vida na semana kids-free. Mas nem sempre é possível, porque ela continua, e não se compadece com esta gestão partilhada de filhos. Há responsabilidades que se atropelam nas semanas que os tenho e há prazeres, também. Há prazeres que persistem para além da maternidade, e encará-los sem culpa é um exercício diário para mim. Um exercício do caraças.
De modo que vou falhando alguns desses prazeres. E vou lambendo crias. Umas vezes, certa da escolha certa. Outras, apesar da certeza, profundamente frustrada. Com as corridas que tenho falhado, profundamente frustrada.
Depois, descomplico, porque o sentimento de culpa e a procura constante de equilíbrio não são exclusivos das mães com guarda partilhada. São exclusivos das mães e terei de viver com isso a vida toda. Como todas.



2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Marta, costumo ler o que escreve, mas nunca comentei. Quando me apercebi que ia ficar com guarda partilhada dos seus filhos fiquei com um nó na garganta. Não a conheço, mas fiquei angustiada só de pensar nessa realidade.
De facto é um direito que assiste a todos os pais, mas é demolidor para uma mãe ver-se privada semana sim semana não das rotinas dos filhos. Como mãe e tendo um marido que é um grande pai, penso que se algum dia as coisas tomassem outro rumo, que ele, provavelmente, iria querer continuar a partilhar o dia-a-dia deles. Sabemos que é uma prova de amor, e é bom os nossos filhos serem amados pelos dois, mas para uma mãe é como se arrancassem, a sangue frio, parte do nosso coração. Um grande beijinhos para si, e parabéns pela sua coragem e vontade de encarar tudo com normalidade, mesmo com a angústia que deve sentir, tentando sempre pensar no que será melhor para eles. Rita

Papoila disse...

Sinto o mesmo e vivemos juntos os quatro :) A procura de equilíbrio entre o nós e a família, o desculparmo-nos e o lembrar-nos de nos dar alguma prioridade e balões de oxigénio é uma "luta" diária :*