segunda-feira, 1 de junho de 2015

Segunda-feira e todos os dias




É segunda-feira e não tive um dia especialmente difícil, mas sinto-me passada a ferro.
Talvez seja pelas más noites que o meu gato me vai dando, talvez pela adrenalina das últimas semanas, que alargaram a minha zona de conforto, obrigando-me a vencer muitos fantasmas de uma vez só. Talvez. 
A exaustão chega-me em forma de dormência. Uma rabugice latente que me costuma chegar como fome ou sono, e que agora se aloja sem razão aparente. 
Descubro que a adrenalina vicia. E que por mais sofrimento que a antecipação de um momento-chave me traga, alimenta-me certos vazios. Quero mais. Estou sôfrega de me cumprir, agora que acabo de descobrir uma paixão. Demorei 40 anos a reconhecê-la e não quero largá-la, como não se larga um grande amor. Jamais.
Estou em condições de perceber o que antes não sabia explicar. Cruzo coincidências, junto sinais, encontro um fio condutor num caminho que não foi linear.
Entendo as aulas de dança que dei, as borboletas de cada vez que subia ao palco, os anos que estudei a fingir que dava aulas, as vezes todas que penso em voz alta, num exercício que me explica. As peças juntaram-se numa espécie de alinhamento astral, que me comove e que me assusta. 
Mas agora é tarde para voltar atrás. Já devia saber, às minhas custas, que as grandes descobertas sobre nós próprios são impossíveis de esconder. Adiam-se, disfarçam-se, simulam-se, mas num tempo que é sempre a prazo.
A nossa verdade vem sempre ao de cima, e querer mantê-la debaixo da terra sufoca aos bocadinhos. E depois mata.