A corrida e o medo

Os desafios que tenho pela frente alegram-me, tanto quanto me assustam de morte.

Há dias em que acordo com borboletas na barriga de contentamento, e há outros em que só me apetece enfiar a cabeça na areia e por lá ficar, a pensar na vida, e a queixar-me que não acontece nada de extraordinário dentro dela.

A verdade é que me dou conta que não temos, nunca, o melhor dos dois mundos: a alegria e a serenidade. Eu não tenho, pelo menos, porque sou feita de ansiedade em estado puro. Sofro muito por antecipação e morro de medo de fazer coisas novas, embora anseie pela novidade todos os dias. Um paradoxo de pessoa.

A verdade é que o medo já não me faz cristalizar no queixume, nem parar no tempo. E se tenho medo de tanta coisa! O medo é o meu segundo nome.

Ainda assim, convivo com ele, como quem convive com um fantasma bom. Olho-o de frente mais vezes do que costumava, rio-me dele, passo-lhe partidas, desmistifico o medo, a pontos de, às vezes, ficar minúsculo como uma noz. A caber-me na palma da mão.

Correr mais tempo, mais depressa, ultrapassar-me e desafiar-me desta maneira, ter corrido uma meia-maratona, querer correr uma maratona, ir para a frente sem pensar no medo, fortalece-me o corpo e faz milagres pela mente.

Corro mais depressa um segundo {vou conseguir fazer isto}, corro mais 1km {vou ser capaz de dizer aquilo}, corro com o vento de frente {aquela coisa já não me assusta}, e assim sucessivamente, num desfile de obstáculos que vão caindo a cada passada minha. 

Não corro só para poder comer mais. Corro para matar os medos. Um a um.