quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Filha, as mulheres deste teu mundo ainda...

Querida filha,
Dizer-te que vives num mundo onde a violência ainda se abate sobre as mulheres, de muitas formas.
As mulheres ainda ganham muito menos por trabalho igual. Ainda acumulam tarefas sem piar grande coisa. Ainda são batidas, violentadas, queimadas em praça pública e espancadas até à morte. Ainda parem em condições desumanas e sem nenhum queixume. Ainda não podem divorciar-se de quem já não amam. Ainda são olhadas de lado quando dão demasiado nas vistas. Ainda são questionadas quando decidem singrar e quando a maternidade não as define, mas "apenas" as acrescenta.
As mulheres deste teu mundo ainda são perseguidas sem que nada seja feito. Ainda são "forçadas" a abandonar o lar e todas as suas referências, quando o inimigo está dentro de casa. Ainda não podem estudar, nem ser quem desejam.
Filha, dizer-te para memória futura, que o mundo em que vives aos teus sete anos {aquele que está para além do meu e do teu umbigo}, ainda é assim. E que muitas das atrocidades de que aqui te falo, existem demasiado perto.
Filha, dizer-te que esta realidade não pode servir para te assustares, nem para te amedrontares com a inevitabilidade de seres Mulher. Ao contrário, deverá servir para te orgulhares disso. Para ousares seres quem queres ser, sem que nada te limite a vida.


[à Maria Zamora, que nunca conheci, e a todas as "Marias" que conheço]

1 comentário:

Anónimo disse...

Belo texto, Marta...vou inspirar-me nele para uma conversa um dia mais tarde com a minha filha. É sempre um prazer lê-la :)