terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Second life


Na minha segunda vida, moraria no meio de Lisboa. Num apartamento antigo, qui çá numas águas furtadas quaisquer, com vista para o Tejo. De certeza que teria vista para o Tejo. 
Os tacos seriam de madeira e haveria azulejos nas paredes da cozinha. Teria a mercearia à porta de casa, e beberia o meu abatanado cheio pela manhã, sempre no mesmo sítio.
Trabalharia ali para os lados do Chiado, numa sala cheia de luz, e o Tejo ao fundo. Sempre o Tejo. 
Teria tempo para gerir o meu tempo. Para ser eu a ir buscar os meus filhos às horas absurdas a que as aulas acabam {ou serão antes os horários da maioria dos pais absurdos?}.
Escreveria o dia todo, e sempre que me faltasse a inspiração ou o motivo, deambularia pela cidade sem norte. E sem tempo. Até que as palavras se chegassem a mim.
Tiraria fotografias a cada canto. Levaria os meus filhos ao quiosque debaixo da nossa casa. Faria o jantar cedo, com frutas e legumes do mercado ali bem perto.
Iria trabalhar na minha bicicleta verde água, e usaria sempre lábios vermelhos. E tudo o que me apetecesse, sem grande filtro.
Teria uma cozinha com frascos, frasquinhos e frasquetas, e especiarias a perder de vista. Seria uma cozinheira de mão cheia, sempre pronta para receber amigos e família e amigos dos amigos. 
Envelheceria assim. Sem rosto retocado, pejada de rugas, mas com o meu sorriso original.
Uma velha de lábios vermelhos e pulseiras a tilintar, numa casa repleta de livros e cadernos, onde continuaria a escrevinhar coisas minhas.
Seria visitada pelos meus filhos e netos e viveria com o homem da minha vida, já grisalho e de barriga algo proeminente, apesar das corridas matinais.

Esta seria a minha segunda vida.
Nesta, começo os primeiros treinos.




1 comentário:

Escrever Fotografar Sonhar disse...

Estás no caminho certo. O mais importante já está, o resto são detalhes sem importância. Beijinhos.