domingo, 2 de novembro de 2014

E é isto

A vida devia avisar-nos quando nos decide mudar as voltas. 
Devia haver o raio de uma campainha, um grito estridente, um megafone, um sinal, uma merda qualquer. Algo que nos avisasse que a vida iria mudar. Qualquer coisa que nos ajudasse a preparar. A reservar energias, a organizar ajudas, a fortalecer o corpo com espinafres, chá de menta, qualquer coisa.
Mas ela não avisa. A vida não avisa nada. 
Há um dia em que a coisa muda de figura e ficamos descalços, despreparados, em estado de choque. 
E o mundo continua a correr lá fora, apesar da dor que temos cá dentro. 
O sol nasce e põe-se. Os autocarros passam nas paragens à mesma hora. O ponto continua a picar-se quatro vezes por dia. O vizinho de cima ainda faz xi-xi às sete da manhã.  Os almoços e jantares continuam a ter de ser feitos. O sol continua a bater na janela em Novembro {como é que não ficou tudo cinzento de repente?]. Os cães continuam a ladrar quando a caravana passa. Há pessoas que riem na rua, que se abraçam. As crianças continuam a andar de bicicleta e a brincar no parque. Bebo o meu abatanado cheio e a minha meia torrada no sítio do costume. Continuo a rir-me como os palhaços em dia de circo.

A vida parece continuar a mesma. Mas porque é que ninguém vê que, dentro de mim, nada mais será como dantes?

4 comentários:

Patrícia Teodoro disse...

Porque olhas por todos e as pessoas esquecem-se que também podes estar a precisar...um grande beijo

Escrever Fotografar Sonhar disse...

Não sabes, mas neste momento estou a dar-te um grande abraço.

Palmier Encoberto disse...

Oh pah... até estou assustada...

(está tudo bem?)

Inês disse...

Poderia ter sido eu a escrever isto! Exatamente agora!
OBRIGADA!