domingo, 3 de agosto de 2014

Noite santa [finalmente!]

Desde que regressámos de férias, há uma semana, o meu gato mia desalmadamente todas as madrugadas. Portador de um maldito relógio biológico, acorda sempre às cinco da manhã, naquilo que começa por ser um lamento e que rapidamente se transforma num choro audível pela vizinhança inteira. Um miar fininho que se entranha pelos ouvidos e que irrita cada ínfima célula do meu ser.
Durante sete dias ininterruptos, tentámos as mais diversas estratégias de sobrevivência: pôr mais comida, pôr mais água, mudar o caixote ainda mais regularmente, abrir a porta do quarto dos miúdos {que ainda se mantinham de férias por outras paragens}, mimar o gato até à exaustão ao final de cada dia de trabalho, dar-lhe palmadas no lombo em madrugadas desesperadas, cobrir a {minha} cabeça com uma almofada; gritar com o meu homem, maldizer o mundo e a sorte.
Sou péssima quando estou em défice de sono. Acordo com dores de cabeça, as olheiras afundam {a fazer esquecer que acabo de regressar de três semanas de férias}, o mau humor estende-se até ao primeiro abatanado da manhã, agradeço silêncio matinal como quem anseia por pão para a boca, acho-me a pessoa mais miserável à face da terra, numa infantilidade com alguns precedentes.
Nestas sete noites seguidas lembrei-me, muitas vezes, das noites mal dormidas aquando dos meus filhos recém-nascidos. Os sonhos interrompidos, as vezes sucessivas em que mal acordava para lhes dar de mamar e aquelas em que adormecia com um filho, literalmente, pendurado a um mamilo. O leite a escorrer mama abaixo, as pálpebras mais pesadas que um camião-tir, o desespero de precisar de dormir e de não ter ninguém que substituísse o meu peito carregadinho de leite, numa demanda que assumi sempre sozinha, já que nunca quis apostar em nenhum tipo de suplemento. A tortura do sono.
Só que desta vez, não tinha a compensação de um bebé ao meu lado no berço, naquele sono estrelar que faz esquecer o desespero de muitos momentos. Ao contrário, tinha um gato histérico e psicopata, a miar por dá cá aquela palha, e a lembrar-nos que existe a cada nano-segundo das nossas madrugadas.
Esta noite, contudo, deu-se o milagre. Os miúdos chegaram ontem de férias, dormiram nos seus quartos depois de cinco longas semanas de ausência nesta casa, e o gato adormeceu como um bebé. A querer dizer que, também para ele, agora está tudo no lugar certo.
O meu homem diz que ainda gosta mais do bicho por causa disto. E eu, apesar de uma semana inteira de arrelia, sinto exactamente o mesmo.
Filhos abençoados, caramba.


2 comentários:

moijeeu disse...

ADORO gatos, e esta história que acaba de contar só faz com que fique a gostar ainda mais...quem disse que os gatos são indiferentes e frios? Obrigada pela partilha.

Ass: Leitoa assídua de Viseu :)

moijeeu disse...

* claro que é leitora e não leitoa, hahahahahahaha....logo eu que não gosto de leitão!