Às vezes invejo as mães de um filho só.
As mães que podem dar atenção exclusiva, que conseguem ouvir os filhos até ao fim, sem interrupções, que não se enganam com o que o que os putos gostam de comer ao pequeno-almoço, nem ao lanche, que organizam programas à medida.
Eu, que sou mãe de três, sinto-me sempre uma mãe aos bocados. Uma mãe que nunca chega para as encomendas, porque as solicitações são imensas.
Há dias, o mais velho informou-me que iria pedir uma rapariga em namoro. Terei dito um conjunto de palavras com nexo, mas não me lembro exactamente quais. Fui entretanto ajudar a Vitória a lavar os dentes, enquanto lembrava o Vasco que o cartão da escola tinha que ir para dentro da mochila. Quando voltei ao assunto da namorada, era tarde demais, porque há espaços de tempo que se abrem e que se não agarramos, fecham logo a seguir. Às vezes é coisa de minutos. Frestas de comunicação que nem sempre se repetem.
Tive muitos filhos porque fui filha única. E não queria que eles, como eu, tivessem de recorrer a irmãos imaginários, nem sonhar com devaneios dos pais que pudessem ter deixado perdido um filho qualquer pela vida. Mas nem sempre me sinto mãe-inteira. Mãe de coração aberto para todos ao mesmo tempo, simplesmente porque não consigo. Nem que fosse mãe-polvo, não conseguiria.
Às vezes invejo as mães de um filho só. E acho que seria uma mãe melhor se tudo o que fosse e tudo o que desse de mim, fosse só para um.
Mas logo depois, bato na boca três vezes. E penso que mãe aos bocados seria, se me faltasse um. A verdade é essa.
6 comentários:
Deve ser difícil, não imagino porque sou mãe de uma só (e às vezes nem a ela a consigo a ouvir ate ao fim), mas agora a ler te vi que a minha filha terá sempre como único irmão o gato..ou tambem como tu ira recorrer a amigos imaginários, a vida é mesmo assim...dá-nos aquilo que nós somos capazes de dar e o mundo considerou que tu eras capaz de dar amor a 3 e que és capaz de dar conta do recado umas vezes melhor outras vezes pior
Como me identifiquei, Marta!! Também sou mãe de três e sinto exatamente o mesmo, com a sensação de que há um dos filhos que fica sempre "pendurado"... Mas lá está... "Que mãe seria aos bocados, se me faltasse um deles?" O Puzzle precisa de todas as pecinhas e acredito que a partilha (da mãe) pelos afetos, os faz crescer muito!!! Adoro o seu blog,1 beijinho!!
Sinto várias vezes. E sinto isso, também, de perder a tal janela de oportunidade na comunicação com um deles porque tive de ir fazer outra coisa qualquer. Não é fácil. Mas é muito mais bonito e rico! Digo eu… :)
Tão lindo! Tão verdade... Bjs e obrigada pela partilha destes sentimentos :-) Bjs
Não é uma mãe pior porque tem que se dividir por três em vez de se dedicar apenas a um, é apenas uma mãe com mais trabalho. Tenho dois e não me sinto assim tão menos mãe. De forma alguma!
Eu filha única e mãe de três penso sempre nisso. Afinal não estou sozinha e quando digo ao mais velho que espere um pouco porque a nossa conversa do costume não pode ser agora porque o mano mais novo, que dorme no quarto dele, está acordado; ou quando digo à miuda que espere um pouquinho e lá chego e ela já está noutra.
Não consigo ver sem um deles, são o meu mundo e alegra-me saber que são amigos, que terão mais amigos por causa dos irmãos, muito mais que eu com milhentos amigos imaginários.
nany
Enviar um comentário