quinta-feira, 5 de junho de 2014

O meu esqueleto no armário [ou as micas que tinha com os Príncipes de Espanha]

Não é preciso ser acompanhante de luxo, nem agente infiltrada para ter uma vida paralela.
A geometria assimétrica do nosso caminho faz-se, muitas vezes, nas pequenas coisas. Naquelas que não costumamos partilhar com {quase} ninguém, e que escondemos no fundo de uma gaveta qualquer, para não amolgar a imagem certinha que os outros têm de nós. Ou no limite, que nós achamos que os outros têm de nós.
Cheguei, contudo, a uma fase da vida em que ando de certa forma desbocada. Nunca pensei dizer isto, porque sempre me irritou aquela frase "estou numa idade em que posso dizer tudo". Não podemos, é mentira. Há coisas que mesmo com 600 anos não podemos dizer. 
Há outras, no entanto, a que nos desapegamos, um bocadinho como as cobras quando se libertam da pele velha. E como todas as peles mortas, mais vale deixá-las ir, num processo de esfoliação rigoroso.
Este intróito para dizer que o Rei de Espanha ter abdicado do trono me lembrou as micas que tive em casa com os Príncipes das Astúrias.
Passo a explicar: numa fase menos luminosa da minha vida, entretinha-me com a suposta luz da vida dos outros. E foi assim que dei início à colecção de recortes da Princesa Letizia  e sua real família {que guardava minuciosamente numas micas}, a contrastar com o meu não menos real agregado familiar, embora por motivos diferentes.
Acompanhei {e recortei} seu pedido de noivado, sua festa pré-nupcial, sua boda, sua lua-de-mel e suas duas gravidezes. Os eventos natalícios, pascoais e afins também foram sendo monitorizados à distância de umas Holas compradas, religiosamente, às quintas-feiras. Os baptizados das infantas, os aniversários de casamento do casal real e outros acontecimentos da família foram, igualmente, escrutinados ao mínimo detalhe, não fosse perder pitada importante daquele conto de fadas.

Já não tenho essas micas há bastante tempo. Talvez os mesmos meses, dias e horas desde que mudei de vida, e que decidi que a minha tem interesse suficiente para não sonhar com a dos outros.
Não me envergonho desta "muleta", que há estratégias aparentemente tontas que nos podem salvar a vida...
Já pensaram quais são as vossas?

2 comentários:

Bibicunha disse...

Comida...é a minha muleta;((( ainda nao consegui dar a volta...

Raquel disse...

Doces.