sábado, 28 de junho de 2014

Agora, que já não tenho todo o tempo do mundo

No dia 4 de Julho faço 40 anos. E apesar de o dizer com um certo orgulho {já que me olho ao espelho e normalmente gosto do que vejo}, é impossível chegar a esta idade e não começar a questionar o peso de certas decisões. Como se tivesse perdido a ingenuidade de achar que se reverte qualquer situação, qualquer decisão mal tomada, qualquer aposta mal feita. Já não tenho o tempo todo do mundo para voltar para trás ou para decidir diferente.
Quando tinha 20 anos achava que existiria para sempre, mesmo que racionalmente soubesse que se tratava de uma tontice de todo o tamanho. 
Achava que usaria eye liner carregado para sempre, que a minha barriga seria lisa para sempre, que a finitude da vida era uma falácia. Eu resistiria ao tempo, como que por magia, porque a frescura que sentia era tão palpável que parecia impossível algum dia desaparecer.
Hoje, com mais duas dezenas de anos em cima, começo a notar a inevitabilidade do tempo. Os pés de galinha à volta dos olhos quando me rio, as peles moles do trícipete quando digo adeus, a barriga longe de ser lisa, o período fértil que se vai esgotando, como num count-down interno e massacrante. 
Percebo que há decisões que não se adiam e que há certezas que temos mesmo que ter, sob pena de nos arrependermos para sempre. E que há sonhos que só podem ser cumpridos agora, ou nunca verão a luz do nosso dia. Nunca serão os nossos. Nunca nos pertencerão, a não ser num esboço tosco qualquer, dentro da nossa própria cabeça.
Tomar consciência disto é pôr pernas a caminho e correr atrás de tudo o que quero ainda fazer. É perceber que a passagem do tempo não me angustia, na justa medida em que sei para onde quero ir e movo montanhas para ser o que sempre quis ser. Sem a desculpa do tempo infinito, o meu maior travão dos últimos anos.




4 comentários:

Escrever Fotografar Sonhar disse...

Amiga, neste ultimo ano, tenho-me debatido com a sensação do "tempo que foge", mas no meu caso não me libertei ainda da ansiedade que acompanha essa constatação. Lá chegarei...

Ana disse...

Adorei este texto. Vai ao encontro daquilo em que acredito. Quandi tomamos consciência da finitude, sem angústias mas com lucidez, vivemos muito mais felizes e desperdiçamos muito menos.

Raquel Caldevilla disse...

Tenho menos um bocadinho do que tu, mas sinto o mesmo, exactamente o mesmo que tu sentes. É essa inevitabilidade do tempo que não me assusta mais, pois sei que a minha felicidade só depende de mim, dos meus saltos e das minhas conquistas, do combate interno e ultrapassado dos meus medos, do arriscar, sempre. Porque viver a vida vale a pena sem travões.

Acaso disse...

Ora aqui está um texto ao qual é impossível ser indiferente. Porque tirando o período fértil :D na verdade me reconheço em muito do que escreves. E mesmo aí, se poderia fazer o paralelo.

É bom estar vivo e sentir os anos que por nós passam com ganhos incríveis e experiência de vida acumulada. Mas claro que começamos a fazer contas.

E a perceber muito que fizemos, do que não faremos e a dar mais valor ao que fazemos.

Mas há sempre espaço ao sonho. Até ao último dia das nossas vidas.

E não te conheci assim tão antes, mas estás muitíssimo bem, minha amiga. Beijos.