domingo, 15 de junho de 2014

A minha noite na Marginal


Não estava em forma, e dou-me {muito} mal com o calor. E embora a prova começasse às nove e meia da noite, estavam para cima de 30 graus.
Tinha o dorsal comigo há uns dias, mas zero de motivação. Os miúdos iam dormir a casa do avô, o meu homem estaria a trabalhar na organização do evento, e era a oportunidade de ouro para me esparramar no meu sofá, agarrar-me ao comando da box e ver todas as séries de culto que tenho em atraso. O paraíso em forma de preguiça.
Deu-se o caso de na véspera da Marginal à Noite ter ido ao Rocha no Ar e de, em directo, ter sido convidada para integrar a equipa da RFM que iria cobrir a prova. Aceitei o desafio com o entusiasmo de quem não pensa a quente, sendo que horas antes da corrida {espapassada do calor e sem nenhuma energia}, pensei várias vezes em ligar à Carla Rocha com uma desculpa qualquer para não aparecer. A minha sala fresca era tão mais apetecível que o esforço de estacionar o carro a dois quilómetros da partida, de ir a pé pela Marginal já fechada ao trânsito, e de correr mais oito quilómetros num programa em directo. Sem margem para desculpas de nenhuma ordem.
Apesar da tentação ser forte, meti-me a caminho como quem vai para uma espécie de matadouro. Tinha medo que o joelho magoado falasse mais alto, que não conseguisse dizer uma palavra, que me deixasse ficar para trás, que perdesse o fôlego ao segundo quilómetro. Medo de tudo.

Corri 5,50Km a falar e os restantes a abanar a cabeça às perguntas que me faziam. O joelho portou-se lindamente, a equipa da RFM foi do mais profissional que tenho visto, o ambiente da prova, único. 
Consegui levantar a cabeça e ver o mar ao fundo, pela noite dentro. De vez em quando, éramos brindados com uma aragem fresca vinda da praia. Uma prenda da natureza que, na altura, pareceu quase divina.

Cortei a meta em esforço, mas a sentir-me uma super-mulher {obrigada Paulo, por teres acompanhado a minha passada de caracol. Devagar se vai ao longe}.
Cheguei a casa à uma da manhã e tomei o melhor duche da minha vida.
Hoje acordei tarde e a más horas, e apesar do calor, sinto-me a mulher mais poderosa do planeta.
E se é preciso correr para sentir isto - esta noção de que não há limites intransponíveis e de que tudo é possível - correrei até ao fim dos meus dias.
Há destinos piores.





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