segunda-feira, 19 de maio de 2014

As palavras tardaram, mas chegaram

Casei pela segunda vez no dia 9 de Maio, entre familiares muito chegados, os meus três filhos e os padrinhos. 
Não fui vestida de noiva, não trocámos alianças, nem houve bouquet para lançar às amigas casadoiras. Quero acreditar que as únicas duas que lá estavam já vivem com os homens das suas vidas e não é preciso forçar nota nenhuma.
Ambos pensávamos {eu e o noivo}, que à segunda os nervos eram coisa que não nos assistia, mas a vida está sempre a surpreender. Aprendemos que nestas coisas do amor, a reincidência não poupa necessariamente emoções fortes, e chegámos à Conservatória a tremer como varas verdes. No meu caso, com muito medo de não casar, não fosse a Senhora Conservadora cumprir o prometido e desaparecer às cinco da tarde, no final do expediente. Não desapareceu, que fomos de pontualidade inglesa.
Casar com os meus três filhos à volta é outra emoção que não se põe em palavras e fico sem perceber como é permitido que os pais casem normalmente, antes dos filhos nascerem, por convenção social. Se mandasse alguma coisa nesta coisa do Amor, decretaria que os casamentos só pudessem acontecer na presença dos filhos, que não há coisa mais bela que vê-los partilhar o que testemunham todos os dias. Perdoem-me a lamechice, mas nunca vivi nada tão bonito.
Num casamento pelo civil não há palavras enroladas em papel de embrulho. No meu não houve, pelo menos. A Conservadora fez questão de dizer que estávamos ali a celebrar um contrato e não nos poupou às obrigações que um contrato desta natureza implica. Não houve cá "até que a morte nos separe", nem "na saúde e na doença". Nenhum de nós se importou com isso, na verdade, simplesmente porque ambos sabemos de cor que as palavras, por si só, não são garante de nada, ou não estaríamos a casar, ambos, pela segunda vez. Bastam as que ecoam dentro de nós. Essas sim, a única legitimação possível.

Se me aguentei aquele tempo todo sem chorar, derreti como chocolate quente com a espera que algumas amigas me fizeram à saída do acto consumado. Volto a agradecer ao Pau Storch o registo daquele momento único, que abriu em mim o rio de lágrimas que tinha guardadas há muito tempo. Fico-lhe eternamente grata.
E a elas {às amigas à saída do acto consumado}, dizer-lhes que a sua surpresa valeu o mundo. Um mundo meu, onde só cabe quem realmente importa.
A festa da noite correu bem. Conseguimos dar atenção a todos os presentes {porque eram poucos e muito queridos}, e desfrutámos de cada momento com a serenidade de quem já não tem pressa. E de quem já sabe que o melhor não está para vir, simplesmente porque o milagre se vai dando todos os dias.

O dia estava luminoso, como eu por dentro. Na verdade, acho que nunca me senti tão cheia de luz, como se o meu corpo pudesse conter o Sol inteiro dentro. Acho que é a isso que se chama felicidade, essa sensação de plenitude dourada que nos ilumina e a quem está à volta, sem receio de se queimar.
A festa foi bonita, pá. Mas os dias de todos os dias são a melhor prenda que o Universo me deu.



3 comentários:

Mafalda disse...

Texto tão bonito Marta, muitas felicidades (todos os dias!) <3

Isabel Patrício disse...

Parabens! que monentos destes se repitam, multipliquem ! que sorriso lindo , muitas felicidades!

homem sem blogue disse...

Um texto destes só pode ser o reflexo de um sentimento muito belo. Parabéns aos dois.

Muitas felicidades.

homem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt