Roma aos meus olhos

Deixamos Roma amanhã.

Andei mais em cinco dias que em dois anos e tenho as pernas e os pés em estado calamitoso, mas não há nada que ensombre uma alma cheia.

As expectativas sobre a cidade eram muitas: as descrições emocionadas da minha mãe {que começou a chorar quando entrou no Vaticano e só parou quando saiu}, o filme "La Dolce Vita" de Fellini, a Roma de Elisabeth Gilbert no livro "Comer, Orar e Amar", a Basílica de S. Pedro e a Capela Sistina dos meus livros de História.

Tenho agora o privilégio de levar comigo "a minha Roma", que se há coisa que tenho aprendido nos últimos tempos é que os mesmos lugares são diferentes para cada um, às vezes literalmente opostos, quase irreconhecíveis. Não adianta o que vos diga sobre esta cidade, que talvez nada tenha que ver com o que conhecem dela, ou com o que virão a conhecer.

A "minha Roma" é feita de cores ocres e de roupa garrida pendurada nos estendais. É feita de gente que fala alto pela rua, de mulheres que se sabem arranjar e que não têm medo de se mostrar apetecíveis, de cappuccinos e de cafés macchiato, de gnocchis que derretem na boca e de "crescione", uma massa caseira recheada de Nutella.

A "minha Roma" tem mais de 300 degraus subidos e suados até à cúpula da Basílica de S. Pedro {onde ia literalmente morrendo de calor e de esforço!}, tem horas de descanso no chão da Piazza Navona a ver quem passa, gelados nocturnos junto da Fontana di Trevi e lágrimas mesmo em frente à Pietá.

Tem a surpresa de ter conhecido pessoalmente uma leitora deste Dolce Far Niente que vive nesta cidade e que {para além de todas as dicas que valeram ouro e que agradeço para sempre}, me mostrou os melhores gelados do mundo {comi dois seguidos, a propósito!}.

A "minha Roma" tem passeios longos pela noite dentro e a certeza de estar no único sítio onde queria estar no mundo, e com a única pessoa com quem tudo isto faria sentido. Também tem um hotel em que nos entregaram a chave, o supermercado local onde fingi ser romana e o melhor spaghetti à la carbonara do meu mundo.

A "minha Roma" tem beijos longos e cumplicidades partilhadas, que tenho o privilégio de ter por companheiro um homem que não se inibe de mostrar emoção quando olha os frescos da Capela Sistina, quando avista o Coliseu ou quando mete o primeiro pé no Museu do Vaticano.

A "minha Roma" tem 30 graus à sombra, bicas milagrosas espalhadas pela cidade, antiquários de cortar a respiração e sapatos de homem e gravatas a perder de vista.

A "minha Roma" tem a frustração de ter "perdido" todas as fotos do Vaticano, do Fórum Romano e do Coliseu {restaram apenas as do Instagram}, e o aconchego de saber que o que é realmente importante ficou guardado no coração e inscrito na alma. 

A "minha Roma" vai comigo para sempre, impregnada no meu ADN das emoções, lugar onde ficam os balões de oxigénio da minha felicidade.

Ciao, Roma!