sábado, 2 de março de 2013

Pais e Filhos

Sempre que os meus filhos se esquecem dos casacos e das mochilas na escola {ou noutro sítio qualquer}, revejo-me neles.
Sempre que se melindram com uma palavra mais azeda, ou com um gesto mais brusco, revejo-me neles.
Sempre que fazem força para não chorar e lhes cai uma lágrima sem quererem, revejo-me neles.
Sempre que deixam para amanhã o que podem fazer hoje, revejo-me neles.
Sempre que não fazem coisas com medo de fracassar, revejo-me neles.
Sempre que sentem medo de alguma coisa ou de alguém, revejo-me neles.
Sempre que choram com um desencanto qualquer, revejo-me neles.
E sempre que lidam mal com as frustrações desta vida, revejo-me neles.

Revejo-me neles nas pequenas e nas grandes coisas, e sofro em silêncio com cada uma das mazelas que a vida lhes vai inevitavelmente causando, porque lhes conheço parte do coração. A parte que é minha.
As outras partes {feitas de pedaços do pai, dos avós, deles próprios...}, não reconheço e nem sempre consigo ler. 
E confesso que ainda não descobri o que mais me custa: se a constatação de que há traços dos meus filhos que não reconhecerei nunca {e acho que ainda bem!}, se a noção exacta dos seus temores mais profundos, aquelas águas revoltas em que todos temos que mergulhar. E aprender a voltar à tona, mais seguros e mais inteiros, que é a isso que se chama crescer.

Estou convencida que parte da beleza do mistério de dar vida, é este: o reconhecimento de tantos estados de alma dos nossos filhos, e o total desconhecimento da sua verdadeira essência, afinal.
E se todos nós, pais e filhos, viéssemos com um manual de instruções, nada disto teria tanta graça. Nem daria tanto medo.

{Este post é um momento Limetree}
MM