sábado, 30 de março de 2013

Ir à terra

Ser lisboeta e viver em Lisboa é isto: ver toda a gente ir à terra e ver-me a mim a ficar em terra.
Já houve tempos em que me senti orfã de um lugar para regressar nos Natais e nas Páscoas. Um lugar com Coreto e com Rua Direita e com Café Central. E com amigos de infância, e com a minha escola primária, e com tios e primos que não vejo desde as festas do ano passado, e com amigos com quem partilhei as primeiras brincadeiras, e namorados a quem dei os primeiros beijos.
Já houve tempos em que senti falta disto tudo. De ser filha da terra e de voltar a ela de braços abertos, como se a minha identidade estivesse explicada por lá.
Sim, já houve tempos em que me senti sem pátria onde voltar e sem origens que explicassem a pessoa que era.

Hoje já não é assim, que ser lisboeta é ter uma terra do tamanho do mundo. 
É ter o Tejo e Belém, onde tantas vezes passeei com a minha mãe. 
É ter Campo de Ourique e os tecidos do Vidal, e o melhor bolo de chocolate do mundo, e os Alunos de Apolo onde me fiz dançarina. 
É ter o meu Chiado, o meu Largo do Carmo e as duas Igrejas onde baptizei os meus filhos. É ter o Príncipe Real e o Britânico, a Estrela e o Hospital Militar {onde nasci}, a Avenida da Liberdade e a da Junqueira, onde  fui caloira e veterana e onde fiz amigos para a vida. E também é a Estefânia, onde nasceram os meus três filhos e o Areeiro onde conheci a mulher que me ajudou a mudar de vida.
Lisboa é a minha terra, cheia de mim e das minhas memórias.
Uma terra para a qual nunca regresso de braços abertos, porque nunca me lhe abandonei o abraço. E ainda bem.


MM

1 comentário:

voltar de página disse...

bonito texto!
e que bonita!