quinta-feira, 17 de maio de 2012

Desafio "Love Stories" - Nova história

E como prometido, deixo-vos a segunda "love story" do Dolce Far Niente.

À protagonista desta história, o meu obrigada pela coragem da partiha.
E pela coragem do recomeço.
Porque nunca é tarde demais.

"Aos 51 Anos...

Aos cinquenta e um anos, depois de dois anos de ameaços, seis de namoro, vinte e cinco de casamento, uma filha e muitas, muitas histórias de adultério e outras…, a relação terminou…!
Foi o fim anunciado de uma união que devia ter ficado pelo namoro, mas não soube ou não quis ver os sinais, que oscilavam entre momentos de carinho e outros de completo desrespeito pelo que é suposto ser uma ligação de amor entre duas pessoas.  
E, assim, fiquei “viúva de marido vivo”, oficialmente, depois de cerca de três anos em que a cama parecia dividida a meio por uma enorme parede intransponível.
A “parede” tinha nome, nome de flor…, que eu já tinha ouvido num daqueles traiçoeiros lapsus linguae, que deixa desconfortável o descuidado e quem o ouve, sobretudo se, depois de interpelado, responde apressadamente: “eu disse isso…? Nem conheço ninguém com esse nome…!”
Mas tudo isto, junto com as ausências ao jantar, os regressos tardios, sem justificação plausível, entre outras coisas mais e ainda uma paixão que se tornou avassaladora e incontrolável, conduziram à confissão de que havia “um envolvimento”, num ambiente que, noutras circunstâncias, poderia ser profundamente romântico – o interior aquecido dum carro, junto à Torre de Belém.
Sabia, como ninguém, como conseguia conquistar com a sua simpatia, doçura, sentido de humor, tudo isto à mistura com presentes e ambientes agradáveis e sofisticados, quando a isso se propunha, mas imaginei que, remetendo-o para uma vida normal de casal, a coisa não duraria mais que um mês e respondi-lhe simplesmente, sem sequer levantar a voz que, então, fosse viver com o seu “envolvimento”…! Mas enganei-me…, porque o objectivo dele era “sentir-se vivo” a todo o custo e o meu acabou por se limitar à tentativa de sobrevivência, com uma auto-estima que já não estava bem e depois ficou de rastos…!
E aí, surgiu uma colega de trabalho, que encontrando-me por detrás dos meus onze quilos perdidos num mês, me convidou a acompanhá-la ao médico, enquanto conversávamos. O médico era um cirurgião plástico e depois de ter resolvido o que lá a levava, a minha amiga, enquanto mirava o meu espanto crescente, pediu-lhe que me observasse, cuidadosamente, para me ajudar a voltar a sentir-me gente.
Um mês depois, muito do que tinha descaído pela força da gravidade e dos tais onze quilos perdidos, muito rapidamente, tinha voltado à normalidade e se por um lado me sentia mais segura, por outro continuava estupidamente perdida.
Até que a mesma amiga me dá um número de telefone de alguém que organizava jantares, com pessoas tão solitárias quanto eu e, depois de muitas vacilações, apesar das boas referências, acabei por decidir inscrever-me para um jantar, num sábado de carnaval de 1999, depois de saber que a minha filha, que me fazia muita companhia, ia sair com uns amigos.
Levei algum tempo a escolher o que levaria vestido, com uma excitação que já não sentia há longos anos e que me fez lembrar a preparação para as célebres festas de garagem dos anos 60/70. Acabei por me decidir por um vestido cinzento claro comprido, de malha, tipo tubo e de gola alta, que só deixava o essencial de fora, mas permitia adivinhar as formas do corpo e um casaco cinzento mais escuro, igualmente comprido e justo.
Mal cheguei ao restaurante, entrei em pânico, apeteceu-me fugir porque, para além da L. organizadora do evento, com quem já tinha simpatizado muito, na nossa longa conversa telefónica, quando da marcação do jantar, que diálogo poderia manter com umas senhoras sorumbáticas vestidas de preto e com casacos de pele a cheirar a naftalina e uns senhores, igualmente sorumbáticos, com lencinhos ao pescoço…?
Valeu-me a L. que tendo percebido, não sei bem como, o meu pânico, me disse que estariam no jantar sessenta e duas pessoas e que viria muita gente jovem com quem iria ter muito prazer em conversar e, na verdade, assim foi.
Apesar da sugestão da L., dos dois géneros se posicionarem alternadamente nas mesas, ficaram à minha direita e esquerda duas mulheres bem mais jovens do que eu, podendo uma delas, a I. ser mesmo minha filha, mas já viúva com três filhos, engenheira, e a outra um pouco mais velha, professora, ambas “habitués” nos serões da L. Pelo resto da mesa tínhamos um novato nestas lides, como eu, jovem como as minhas companheiras, um admirador da jovem engenheira e mais um par dos tais que já lá estavam quando cheguei.
A conversa foi bem animada, o jantar de qualidade e no fim, uma cabecinha mete-se entre a minha vizinha da esquerda e o seu admirador e comenta, olhando para nós duas, que se existisse um prémio para quem mais conversou, que caberia a ambas. Depois dos cumprimentos e das apresentações, A., ofereceu-se para me levar para a discoteca, já com lugares marcados para o grupo, se não tivesse transporte, o que não era o caso, mas fez questão de ir à minha frente para me ensinar o caminho.
Na discoteca, sentou-se ao meu lado e da sua amiga engenheira, conversámos e, logo que julgou conveniente, convidou-me para dançar e, estranhamente, entendemo-nos muito bem, nesse campo, o que nem sempre me acontece.
Depois, mais estranhamente ainda, tudo foi encaixando, aquilo que pretendia da vida, as características da pessoa que procurava, até que meia assustada e porque eram duas horas da madrugada, qual Cinderela, achei que devia voltar a correr para casa, não com receio de perder o sapato, mas com medo que o príncipe se transformasse em sapo, porque tudo parecia perfeito de mais… e eu estava demasiado carente e vulnerável…!
Entretanto, um grupo restrito no qual ele se incluía, com a minha companheira da noite, a I., tinha programado uma saída na segunda feira de carnaval e, antes de sair, convidaram-me a juntar-me a eles.  
E, assim, na segunda feira lá fui com a I. que veio até minha casa, juntar-me ao grupo numa daquelas discotecas, especialmente para seniores, com música de anos 60 e 70, onde dancei toda a noite com o A…!
Ainda hoje, é uma das coisas que fazemos juntos, com enorme prazer…e agradeço-lhe, profundamente, ter-me ajudado a viver, de novo, emoções que há muito tinham deixado de fazer parte da minha vida…!"


MM

3 comentários:

Helena Barreta disse...

Viva a protagonista desta história; viva a luta que travou para ser feliz e por não ter desistido da vida.

Muitas felicidades e que continue a dançar por muitos e bons anos. Um beijinho

Isabel mc disse...

Esta história é a prova de que vale sempre a pena acreditar e nunca desistir.

Beijinhos

Dolce Far Niente disse...

Obrigada Isabel e Helena pelos vossos comentários.
Nunca é tarde demais para recomeçar nada.

Beijinhos