terça-feira, 15 de maio de 2012

Desafio "Love Stories" - lançamento

Como prometido, publico a "love story" enviada ao Dolce Far Niente por uma seguidora e amiga.

Obrigada Marta, pela generosidade da partilha.
Aqui está a tua história, contada na 1ª pessoa...

"M & P

Tudo começou no longínquo ano de 1998 quando, depois de terminar a licenciatura em Antropologia, decidi rumar a terras de nuestros hermanos para realizar um Master em Património.

A escolha inicial recaía na Universidade de Barcelona mas, ao fim de tres dias de imersão linguística no célebre catalão e de perceber que não percebia patavina do que diziam os professores, agarrei na mochila, apanhei um autocarro para Madrid e inscrevi-me na opçao b, na Complutense, onde todos falavam num idioma conhecido.

Entre os colegas do Master havia uma rapariga, a E., que tinha um grupo de amigos bastante activo e todos os fins de semana organizávamos jantares, saíamos por Madrid ou íamos de excursão para o campo (os pais desta colega tinham uma empresa de turismo rural e percursos pedestres o que facilitava bastante estes nossos passeios).

E foi num desses fins de semana que conheci o P. Na serra de Béjar, perto de Salamanca.

Enquanto me instalava placidamente no quintal a apanhar sol com o R. (outro colega do Máster), vi chegar do meio do mato duas figuras desgrenhadas que pareciam ter andado perdidas durante semanas (na realidade foram só umas horas). Ele encostou-se num muro para recuperar forças e eu, impelida por uma força desconhecida, levantei-me de onde estava e sentei-me ao lado. Olhámo-nos nos olhos. Reconhecemo-nos. Sorrimos. E tudo começou nesse instante.

Nos meses que se seguiram essa atracção tornou-se cada vez mais presente. Saímos vezes sem conta, fiz amigos entre os amigos dele (e que mantenho até hoje), rimos  muito, flirtamos ainda mais, mas havia um problema... Aliás, dois.

Quando disse à E. que o amigo P. era capaz de ser interessante, levei com um "eu vi primeiro, portanto nem penses em ir por aí que não vou permitir". Perante tal assertividade e, como amiga que era, deixei que a razão dominasse o coração. Elaborei uma lista infindável de razões para me convencer que nao valia a pena perder uma amizade por um "não se sabe o quê", ainda por cima ia regressar a Lisboa e eles ficavam lá, blá, blá, blá.

Por seu lado o P. viveu uma experiência idêntica. Havia outro rapaz no grupo, o O., o melhor amigo da faculdade e dos anos que se seguiram, que tinha um "crush" aqui pela Martita. Daqueles que se tornam insistentes e chatos, que não querem perceber que onde não há nada, não há mesmo nada. E, nessa conjuntura, numa noite em que tínhamos saído vários amigos, disse ao P. no meio de uma discussão "se te envolveres com a M. perdes um amigo".

E voilá. As circunstâncias não propiciaram que a nossa história se concretizasse. Mas, ainda assim, aproveitámos cada ocasião que tínhamos para estar juntos, como "amigos". Amigos daqueles que têm uma estranhissima proximidade física que deixa o corpo pele de galinha, um entendimento emocional, que os leva a partilhar quase tudo, e que dizem tudo quanto há para dizer sem necessidade de utilizar palavras.

Quando o Máster acabou e voltei a Lisboa, regressei triste. Perdida. A despedida foi um "até breve" com lágrimas nos olhos, e não olhei para trás ainda assim não perdesse a compostura.

Nesse momento cada um começou a construir uma outra vida, com relações sentimentais estáveis de ambos os lados da fronteira, onde o espaço que tínhamos era o de umas cartas que se enviavam e recebiam com o coração aos pulos, numa combinação de alegria e tristeza, a que se seguiram os emails, algumas viagens a Madrid, outras tantas a Lisboa.

Lembro-me que a primeira vez que o meu amor veio a Lisboa, no ano a seguir ao meu regresso, foram dias de frenesim. Ignorei completamente o namorado de então para "fugir" com o P. e os nossos amigos (entre eles o O.) e, durante uns dias, tudo voltou a ser como antes. A mesma cumplicidade. A mesma certeza de "he's the one". E a tristeza da impossibilidade de concretizar fosse o que fosse. Eu já trabalhava na universidade, o namorado tinha vindo viver comigo. Ele estava imerso no trabalho e no estudo para ser notário. Não tinha ainda chegado o momento.

Durante os anos que se seguiram voltámos a encontrar-nos várias vezes, sempre nas mesmas circunstâncias. Com alegria e tristeza. Namorados e namoradas. Emails. Desabafos da nossa vida professional e académica (nunca falávamos sobre os "respectivos"). Contactos e viagens evitadas. A partir de certa altura tentei convencer-me que era mesmo impossível, que tinha que esquecer e centrar-me na minha vida.

Dediquei-me de corpo e alma ao trabalho na universidade e ao doutoramento. Tinha um namorado/companheiro que preenchia o âmbito pessoal e familiar. Propus-me seguir o caminho normal e esperado: trabalho, casa, filhos. Não sendo verdadeiramente feliz em nenhum deles, teimei em seguir adiante. Terminei a tese. Engravidei. Mas o universo age quando tem que agir e deu-me uma oportunidade. Foi só depois de uma gravidez não evolutiva que na altura gerou muita frustração que algo mudou dentro de mim e ao mesmo tempo as circunstâncias foram-se transformando.

Percebi que a insatisfação absoluta que sentia não iria desaparecer se continuasse pelo caminho que teimava em seguir e que me estava a transformar numa pessoa que não me agradava. Frustrada, zangada, insatisfeita. Aparentemente tinha tudo - casa, trabalho, companheiro - mas na verdade não tinha nada.

Em 2007, depois de defender a tese, comecei a pensar em projectos a desenvolver com parceiros europeus. E não foi por acaso que pensei na Complutense. Quando estava a ponderar esta possibilidade convidaram-me para participar num congresso em Madrid e, desta vez, não disse que não. Lá fui. Lá mandei um mail a dizer que ia. Lá me foi buscar uma noite à porta do hotel para ir jantar. E o meu mundo, tal e como era até então, acabou logo ali. Não sei como descrever as emoções que se juntaram quando nos reencontramos depois de tanto tempo. Brutais. Viscerais. Definitivas. Tive a certeza que aquele era o meu lugar. Agora sim. Estava tudo claro. Voltei  a Lisboa sem conseguir falar para encontrar o N., o meu companheiro, com a certeza de que não havia nada a fazer. Ele sempre soube. Soube do antes, do durante. Viu-nos juntos e sabia que esse dia ia chegar. Um mês mais tarde regressei a Madrid para uma reunião na Complutense e passamos o fim de semana juntos. Pela primeira vez. Tudo encaixou. Foi perfeito, foi divertido, foi como tinha que ser.

Mas tínhamos um problema...

A universidade. A casa (tinha acabado de me mudar). A situação do P era ainda indefinida (estava na recta final dos exames para aceder a ser notario).

Pensa Marta, pensa... Uma BOLSA!!!! Viagens. Estadias curtas. Fins de semana. Fins de semana prolongados. Férias.

Até que em 2008 chegou a hora do tudo ou nada. Deixei a universidade. Aluguei a casa. Fiz as malas e fui viver com o P. para o seu primeiro destino como notario, em Potes, nos Picos de Europa. Com muita alegria. Com a certeza de estar no sitio certo. Mas com o medo entranhado no corpo de tanto que ouvi dizer que me iria arrepender da minha decisão, que era uma loucura, que não ia resultar. Foi uma loucura, é certo, mas de felicidade, de descoberta, de conquistas, de experiências novas. Pela primeira vez na vida era livre. Para ser eu. Ou melhor, para começar a ser eu.

Nos primeiros tempos ainda me forcei a recuperar a Marta certinha e trabalhadora. Encontrei trabalho na Complutense, mas voltávamos a estar separados, ele em Potes, eu em Madrid, viagens de avião, de carro, de comboio, kms e mais kms. Não fazia sentido nenhum. Resolvi pôr um ponto final nessa etapa e reciclar-me profissionalmente. A viagem surpresa a Paris, com pedido de casamento incluido enquanto estávamos sentados numas escadinhas a olhar para a Torre Eiffel é capaz de ter ajudado, se é que ainda tinha alguma dúvida.

Tinha finalmente chegado o nosso momento. Os dois sabíamos disso.

Já recuperámos os anos "perdidos", se bem que somos conscientes que tudo acontece quando tem que acontecer. Nem antes, nem depois. Estamos juntos e isso é o que importa. Agora e para sempre. E se há quem diga que não há amores eternos, eu direi que este pode bem ser a excepção. Desde aquela tarde sentados em cima de um muro que sei que será assim. E sou feliz. Muito feliz."

Quem quiser seguir a Marta, é só acompanhar o Blog Pensamentos à Deriva, e deixar-se levar.
É o que vou fazendo.


MM

8 comentários:

Anita disse...

Lindo :)
Felicidades para eles ♥

Anónimo disse...

Como eu conheço bem esta história... linda, maravilhosa, inspiradora e principalmente verdadeira. Devo dizer que claramente há uma Marta A.P. e uma Marta D.P., o que prova que desde que sejamos fieis ao que nos vai na alma, nada pode correr mal!!!
SR

Dolce Far Niente disse...

Os créditos ficam para a outra Marta! :) Ainda bem que gostaste!

Beijinhos

Anónimo disse...

Como eu conheço bem esta história... linda, maravilhosa, inspiradora e principalmente verdadeira. Claramente há uma Marta A.P. e outra Marta D.P.!
O que prova que desde que sejamos fieis ao que nos vai na alma, nada pode correr mal.
SR

Marta Anico disse...

SR!!! Apanhei-te no blog da minha amiga MM:) O teu comentário fez com a lágrima que aqui está ao canto do olho esteja indecisa entre cair ou esconder-se... Gosto tanto de ti amiga!!! Tenho que contar à MM que somos amigas desde que estávamos na barriga das maes:) Bj bj e bj.

Isabel mc disse...

Também fiquei "presa" a esta história como se estivesse a ler um livro. E quando percebi quem era, ainda mais. que bom! Fico feliz! Cumplicidade, amor e felicidade (e saúdinha, vá... que já estamos mais perto dos entas)são essenciais para a vida fluir!

Muitos beijos às duas Martas

Helena Barreta disse...

É uma bonita história de amor.

Que sejam muito felizes.

Dolce Far Niente disse...

Isabel, gosto tanto de te ver por aqui!!! :)

Muitos beijinhos a saudades!