quarta-feira, 11 de abril de 2012

A vida dos outros

No outro dia dei com um texto escrito pela Ana Bacalhau (vocalista dos "Deolinda"), sobre o momento difícil que Portugal atravessa.
E fiquei a pensar numa frase sua, que dizia qualquer coisa como "o futuro sem esperança não é futuro, é sentença".
Escrevia ainda, que se assusta com a dificuldade que a nossa geração {e mais ainda das seguintes}, vai tendo em sair da pobreza, quando cai nas suas malhas.
Na verdade, venho sentindo na pele a contracção da minha economia doméstica, e na pele dos outros....meus amigos, meus colegas, meus familiares.
E também nos que não me são nada, mas cuja situação frágil também dói na minha pele. Falo das pessoas que procuram o serviço em que trabalho.
Daqueles que há uns meses atrás estavam numa situação equilibrada e que hoje, por factores diversos, mergulharam no fundo. E não sabem como vir à tona.
Alguns porque não têm forma, de facto.
Outros {muitos}, porque nunca aprenderam a viver sem créditos sucessivos, nem dívidas que têm de ser pagas, nem consumos supérfluos desmedidos.
E não digo isto ironicamente.
Acredito {talvez por (de)formação profissional}, que há pessoas que nunca aprenderam a gerir as suas vidas em função da sua própria realidade. E que continuam a medir as suas despesas e o seu estilo de vida, pelas lentes da vida dos outros.
E tal como a anorexia deforma a percepção que temos do nosso corpo, há situações de pobreza, deformadas aos olhos de quem a vive.
Só que o dia do confronto com a realidade acaba por chegar. Às vezes, tarde. Quando já se está inundado de créditos, de dívidas e de merdinhas que se compraram e que, afinal, já não servem para nada. Nem nunca serviram.

Escrevo isto e olho para dentro.
E percebo que cada um de nós, à sua escala e à sua maneira, vai cometendo "pecadilhos" destes.
E que pela vida dos outros, vemos nós a nossa.

MM

6 comentários:

Helena Barreta disse...

Aprendi com os meus pais que não devemos viver acima das nossas possibilidades, sempre os ouvi dizer que se ganhamos 100 não podemos gastar 200. Ainda bem que lhes dei ouvidos.

Mas sim, também me assusta o futuro das gerações vindouras e do meu filho e sobrinhos que estão, mais ano menos ano, a entrar no mercado de trabalho.

Um beijinho

Dolce Far Niente disse...

Também me preocupo muito com os meus filhos. E policio-me, porque os tempos não estão para disparates.

Um beijinho grande, Helena.

eu disse...

É verdade... todos (ou quase) temos umas coisas para aprender neste campo.

Anónimo disse...

mesmo assim acredito que os creditos são uma forma de "termos alguma coisa".... mas falo de casas e carros ( coisa que apartida ñ se consegue comprar a pronto) o problema é que com as facilidades que houve em conseder creditos para tudo - viagens, computadores, etc.. e todos - com altos ou baixos rendimentos... há sempre quem não consiga cumprir.... porque andar no fio da navalha a vida toda, acaba-se por escorregar...

Marta P

Viagem com tudo incluído disse...

Sem dúvida. Os tempos estao muito complicados, mas a verdade é que estamos mal habituados e temos de fazer um grande esforço para não nos deixarmos ir e não nos perdermos. Eu também aprendi a viver com aquilo que tenho e não com aquilo que os créditos que podem dar, mas a grande maioria dos Portugueses vive (ou vivia) largamante acima das suas possibilidades.

estrelinha disse...

sim, é bom que tudo isto seja uma lição. Para mim está a ser.é tempo de ajustes e reflexão.