segunda-feira, 21 de maio de 2018

Quero dar-vos boas notícias!




O grande dilema das mulheres nos dias de hoje, ainda tem que ver com a conciliação entre o trabalho e a família. A culpa persegue-nos há décadas. Antes, era esperado que fossemos as cuidadoras exclusivas; tudo o resto era um "plus" caprichoso ou demasiado modernista e, por isso mesmo, mal visto. Hoje, somámos ao nosso papel de cuidadoras, o direito a trabalhar fora de casa, e conquistámos o direito à liderança nas organizações, tudo boas notícias! Mas como é viver com uma conta de somar, sem subtrair nada? O dilema, na verdade, é este mesmo: queremos trabalhar e queremos ter o direito a ascender profissionalmente, mas não queremos perder o direito a estarmos presentes na nossa família, porque essa é a nossa matriz, a matriz do cuidar. Digo isto sem nenhum tipo de preconceito de género, até porque não sei se esse natureza cuidadora que caracteriza a maioria das mulheres (e que não se traduz, de todo, somente na maternidade, mas na relação com os ascendentes, com maridos ou companheiros, etc), tem que ver com o facto de sermos mulheres ou com o papel social que desempenhámos ao longo de séculos. Seja por uma ou por outra razão, esta matriz persegue-nos como uma benção e como uma maldição, um paradoxo que continua connosco como uma cicatriz.
A verdade é que queremos tudo: um trabalho bem sucedido e tempo para a família. E a dura realidade é que na maioria das vezes,  esta soma não funciona de forma linear. Todos os dias vivemos a culpa de deixarmos para trás uma destas facetas e todos os dias nos penalizamos por isso; porque saímos do trabalho antes das seis da tarde, porque fomos buscar o miúdo à creche perto das sete, porque chegamos a casa estoiradas e sem paciência para nada, porque devíamos ler o relatório a, b e c e já não temos forças, porque, porque, porque. Queremos ser reconhecidas profissionalmente e, legitimamente, queremos continuar presentes para a família. E quando digo "presentes", não me refiro ao sufoco que é dar resposta a tudo a um ritmo constantemente tão alucinante, que nos faz taquicárdias. Estar presente para a família não é fazer sempre tudo à pressa: ir levar e buscar os miúdos à pressa, conversar à pressa, ouvir à pressa, ralhar à pressa, amar à pressa.
Pergunto-me, muitas vezes, se o direito que conquistámos a pulso para sermos trabalhadoras fora de casa e para ascendermos profissionalmente implica, inevitavelmente, perdermos o direito a vivermos a família sem pressa. Pergunto-me se querer ter uma carreira bem sucedida e tempo para a família é um binómio estapafúrdio. Pergunto-me isto todos os dias, e ainda não tenho uma resposta, mas dêem-me tempo; quero dar-vos boas notícias.

5 comentários:

A TItica disse...

Vou aguardar com ansiedade,pois essa culpa têm dado cabo de mim... a falta de tempo para sermos nós mesmas em pleno!!

Bjs

Xica Maria disse...

Pergunto isso todos os dias. E todos dias lamento não ter mais tempo.

Anónimo disse...


Olá Marta,
Pensei muito,muito antes de comentar.
Realmente nas ultimas décadas( a meu ver ) as mulheres conquistaram muita coisa e ainda bem. Mas a maioria de nós o que quer é ser, sem se dar conta, uma super mulher: ter uma carreira, uma família, um companheiro, filhos, casa em ordem, ser linda, ser sexy, ser amante...
E não abdicar dos filhos. Pois este papel é ancestral, faz parte do ADN da maioria de nós.
Eu não tenho vergonha de dizer, não se pode ter tudo. De certo modo temos que abrir mão de alguma coisa. Ou estamos numa reunião de trabalho, ou vamos buscar o filho à escola!
Claro que ter alguém ao nosso lado que colabore, faz toda a diferença. Uma grande parte das famílias não consegue ter esse apoio e não me estou apenas a referir à partilha de tarefas dentro do lar.
A prova é que a taxa de natalidade em Portugal tem vindo a diminuir a pique todos os anos e não parece haver retorno breve. Tu és uma excepção feliz, claro.
Pela minha parte faço o melhor que posso e consigo para ser uma mãe presente, mas já tive de abdicar de algumas "coisas" a nível profissional e pessoal. Decisões que tomei conscientemente. Mas não culpo quem toma outras diferentes das minhas. Pode ser-se boa mãe e bom pai de diferentes maneiras, não há uma fórmula correta. Eu escolhi a minha: ter o máximo tempo com eles, mesmo continuando a trabalhar. Claro que há custos.
Já agora, neste momento estou numa fase em que há outros elementos da família a precisar de apoio, mas isso fica para outros posts.
Beijinho
Lua Azul

Mafalda Gonçalves disse...

Ai tantas, mas tantas verdades.
Como reforço todas estas ideias. Eu também sinto esta culpa todos os dias. Trabalho muito exigente, com cargo de direcção, muitos colaboradores e clientes a dependerem de mim.
Não, não posso falhar.
Em casa, esposa e mãe de 2 rapazes.
Não, não posso mesmo falhar.

Papoila disse...

Faço-me essa pergunta quase todos os dias :*