sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Madaya e outras misérias

A culpa é unicamente minha. Tenho andado propositadamente afastada de quase tudo o que são notícias, porque de cada vez que me decido a ouvir um noticiário qualquer, acabo cinzenta por dentro. E pior que isso, um bocadinho desencantada com este mundo em que vivemos, e onde coloco quatro filhos.
Ontem, contudo, ao ouvir a TSF a caminho de casa, fui assaltada pela notícia aterradora da cidade rebelde de Madaya, perto de Damasco, que se encontra cercada pelo exército e onde cerca de 42.000 pessoas permanecem a morrer de fome. O testemunho, médico de profissão, falava da situação catastrófica que ali se vive, e que tem obrigado a população a alimentar-se de tudo o que mexe, cães e gatos incluídos. As imagens de um noticiário de ontem mostravam, ainda, cadáveres de gente completamente subnutrida, que morreu à fome e sem acesso a qualquer tipo de medicamentos.
Bem sei que há situações calamitosas de pobreza extrema a acontecer pelo mundo inteiro desde sempre, e também sei de outras misérias que pairam bem perto de cada um de nós, não fosse Assistente Social de profissão. Mas a minha perplexidade perante a desumanidade em que vivemos, em pleno século XXI, continua a moer-me muito. Uma moinha que pode matar-nos por dentro, porque também se morre de desencanto e de desesperança.
Pergunto-me se vou fazendo a minha parte, como educadora, como mulher, como interventora social. Pergunto-me se ensino aos meus filhos os valores da tolerância, do respeito, da compaixão. E também me pergunto se lhes dou as ferramentas certas para terem a auto-estima necessária para não se deixarem atropelar pela vida, e se a vida será branda com cada um deles, por mais auto-estima que tenham.
Pergunto-me se faço a minha parte e se a minha parte, com as partes de cada um de nós, são suficientes para compor isto, um dia. Pergunto-me tantas perguntas. E não fico com nenhuma resposta.


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