quinta-feira, 16 de julho de 2015

A loucura dos quarenta



A propósito de um desabafo que publiquei no facebook sobre a corrida e as endorfinas, perguntaram-me se estaria grávida.
Não estou e não estarei. Tenho 41 anos, casada de fresco, mãe de três filhos e com idade suficiente para poder dizer que gozo até ao tutano os meus dias e as minhas noites sem crianças.
Voltar a não dormir à noite, a trocar fraldas, às papas e aos carrinhos de bebé, ao tempo sem tempo, já não seria para mim. Sinto que chegou a minha hora. O exacto momento da vida em que tenho os filhos que sempre quis ter, e em que sou a mulher que sempre quis ser. Uma dádiva.
Ainda assim, sonhei que estava grávida de ti, meu amor. Não sei se estaria num sono profundo, se naquele estado de dormência latente em que  nos acorrem pensamentos soltos à cabeça, uns desacertados e outros tão certos que assustam. Não sei. Sonhei que te tornara o homem mais feliz do mundo com a notícia, porque {não sei se já percebeste}, mas nasceste para ser pai de alguém.
Sabes disto melhor que eu, não te estou a dar nenhuma novidade. Mas sublimas esta certeza com outros amores, num gesto que te agradecerei sempre, porque não é seguro que se ame os filhos de quem amamos.
Não estou grávida e estou certa que não estarei nunca mais. Mas se a vida apagasse a vida cheia que já temos, se por uns instantes, apenas, fizesse delete na história que os dois trazemos às costas, dar-te-ia um bebé só nosso. Um que pudéssemos cuidar só os dois num exercício irritantemente egoísta.
Assim, ocupemo-nos de nós e disto tudo que temos. E gozemos o tempo sem filhos, num regresso constante à vida a dois, numa loucura dos quarenta. Gozemos também o tempo que temos com as nossas crianças e tenhamos sempre a noção desta existência a prazo. Esta existência que é, neste exacto momento, a melhor da minha história.


2 comentários:

Anónimo disse...

Emocionam-me tanto as coisas que leio por aqui.
Quem se permite residir no amor fala uma linguaguem universal que só os que amam,ou já amaram, compreendem.
Não há maior riqueza que ter a possibilidade de viver o/no amor.
Bem hajam pelo vosso.

Ana R. Leitão

VerdezOlhos disse...

O amor é qualquer coisa de inexplicável :)
Quero um dia mais tarde poder ainda viver para aquele que amo, ainda que sem crianças. Pessoal e francamente não sei se quero ser mãe (tenho quase a certeza de que não quero) mas por vezes reconsidero só porque acho que aquele que tenho a meu lado é tão especial que o merecia e porque acho que seria um pai maravilhoso. Mas depois lembro-me, egoísticamente, que ele assim deixaria de ser tão MEU e o teria de "partilhar"...e não sei se estou preparada para isso.
Que o vosso amor seja sempre assim: de encher e transbordar no coração, numa loucura sã em todas as décadas da vossa vida :)