quarta-feira, 24 de junho de 2015

À porta dos 41


À porta dos 41, dou comigo a pensar no tempo que ainda me resta para ser o que quiser. Não que queira fazer uma viagem à Lua, sequer subir o Monte Everest, mas incomoda-me pensar que posso já não ter todo o tempo do mundo para fazer tudo aquilo a que me propuser, sem limites de nenhuma espécie.
Quando somos mais novos, não pensamos muito nisto, porque a velhice e a morte são inevitabilidades que não nos assistem. A velhice e a morte são dos outros, uma realidade que não nos pertence e que, fantasiosamente achamos que nunca nos irá pertencer. Lembro-me de ser miúda, atleta de alta competição, e de achar que nunca na vida iria ter barriga. Que a barriga proeminente nunca seria para mim. Como não seriam para mim os pés de galinha à volta dos olhos, ou os braços flácidos a acenar.
A idade mostrou-me que é tudo nosso, não há volta a dar. Que envelheço como todas as almas e que o medo de não me cumprir em tempo útil começa a tornar-se um facto {ou um fardo?}.
Já quis ser bailarina, actriz, professora, escritora, viajante. E quando a juventude ainda mora connosco, quase nunca somos o que queríamos ser, mas resta-nos o conforto de sabermos que a longevidade pode ainda guardar-nos surpresas loucas. Podemos ainda vir a ser o que quisermos, porque temos tempo. Todo o tempo do mundo.
Ultrapassados os quarenta, perde-se a noção do tempo infinito. Esse, que nos faz esperar à sombra da bananeira com o à vontade de quem bebe uma cerveja, porque a pressa é inimiga da perfeição e porque a vida espera.
A vida não espera, e é quando nos resta menos tempo que desatamos a apressá-la e a fazer o que tem de ser feito, sem desculpas.

À porta dos 41, estou mais perto de mim do que nunca. E se a falta de tempo começa a incomodar-me ligeiramente, a energia redobrada que ponho nos planos que tenho, dá-me asas. E faz-me acordar todos os dias com borboletas na barriga.