segunda-feira, 27 de abril de 2015

O post tardio do 25 de Abril

Sempre que tento explicar aos meus filhos que já houve um tempo {não muito distante}, em que o voto estava interdito às mulheres, em que não se podia estar em grupo na rua, em que as mulheres não saíam do País sem autorização dos maridos, em que o casamento estava vetado às enfermeiras, em que os casais infelizes não se divorciavam, e em que se torturava e matava quem pensava diferente do regime, eles ficam incrédulos.
Os meus filhos, de 13, 11 e 7 anos, não sabem o que é viver sem liberdade. Não percebem o conceito, não concebem a equação, não encaixam no padrão.
Ouço muita gente dizer que estas novas gerações não sabem o que significa o 25 de Abril. Que a Revolução vai perdendo impacto na malta mais nova, a quem já tudo foi dado de mão beijada. Sem nenhum esforço.
Nasci em 1974 e sempre me considerei romanticamente "filha de Abril". Os meus pais, cada um à sua maneira, fizeram parte da revolução, e eu cresci a ouvir falar nela.
Não há 25 de Abril de ano nenhum, que não volte a falar dela aos meus filhos, e do que mudou no País e nas pessoas, mas sei que integram o que lhes digo com a razão, e não com o coração. Ouvem-me com paciência e com o interesse possível, mas encaram o relato como se fosse mais um capítulo dos seus livros de História.
Ainda assim, não lamento este facto. Aceito-o. Não posso ter a expectativa de que vivam a data, como os avós ou até como eu, porque todas as suas vivências, tudo o que conhecem, remete para uma vida em liberdade. E ainda bem.
Esta, aliás, é uma das grandes conquistas da Revolução. A capacidade de regeneração das gerações pós-25 de Abril, que já não sabem, nem sequer integram o conceito, do que é não viver em liberdade.
Que assim permaneçamos todos. Os mais velhos com a memória do que foi, para nunca mais lhe voltar. Os mais novos, com a eterna incapacidade de conceber uma existência mutilada.



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